O portal Ver-o-Fato traz à tona uma polêmica que há quase três meses tem gerado grande preocupação entre os membros da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) e da comunidade cristã em Belém. O pastor Lourival Matos Pereira, líder da Catedral da Família no bairro do Guamá, enfrenta acusações pesadas de irregularidades financeiras que já impactam a confiança dos fiéis e têm sérias implicações legais.

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O pastor, que foi procurado ontem, 15, pelo Ver-o-Fato e a nós concedeu entrevista exclusiva (leia no final desta matéria), aponta que o mentor por detrás dessas acusações contra ele, cujo propósito seria “denegrir e destruir minha reputação”, é o presidente nacional da IEQ, o pastor e ex-deputado federal Mário de Oliveira.

Durante a última convenção estadual da denominação, que reuniu mais de quatro mil pessoas, o Lourival afirmou que tem sido “perseguido e acusado gravemente”.. As denúncias incluem suspeitas de desvio de dízimos e ofertas, utilização de empresas de fachada para lavagem de dinheiro, e mais de 20 processos na Justiça relacionados a esses supostos crimes.

Dentre as principais acusações estaria a prática de relatar apenas um dos cultos realizados aos domingos, o que teria implicado em desvios financeiros. Lourival rebateu as acusações dizendo que seguiu orientações do secretário da igreja e comparou sua prática com a de outro pastor, que também registraria apenas parte das atividades.

Outros pontos polêmicos incluem contratos de imóveis que estariam no nome pessoal do pastor. Ele afirmou ter transferido esses contratos ao Conselho Estadual de Diretores (CED), mas documentos não teriam sido enviados ao Conselho Nacional (CND). Sobre as críticas por falta de reconhecimento em obras realizadas, Lourival disse ter enviado relatórios ao Secretário Nacional, incluindo fotos e vídeos, para comprovar o progresso.

O Ministério Público do Pará, por outro lado, apura os fatos, investigando possíveis crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas e enriquecimento ilícito. Segundo a denúncia, Lourival e sua família teriam usado a imunidade tributária da igreja para beneficiar empresas pessoais e transferir recursos para atividades no exterior. Ele também é acusado de não prestar contas de grandes arrecadações em eventos bilhetados realizados no templo.

Especialistas alertam que esses casos podem comprometer a imagem da igreja, ressaltando que a falta de transparência e a politização de questões internas podem abalar a credibilidade da instituição. A resposta oficial da IEQ Nacional tem sido discreta. A assessoria informou que as denúncias estão sob análise sigilosa pelo Conselho Nacional, enquanto a direção nacional, comandada com mãos de ferro por Mário de Oliveira, está auditando documentos e exigindo prestações de contas detalhadas.

Vaias e ira de Mário

O clima de tensão entre líderes da Igreja do Evangelho Quadrangular atingiu seu ápice em setembro passado, durante a 49ª Convenção da denominação em Belém. O episódio polêmico envolveu Mário de Oliveira e uma multidão de fiéis que apoia Lourival Pereira. O evento religioso ocorria no templo do bairro da Pedreira.

De acordo com um vídeo amplamente compartilhado nas redes sociais, Oliveira perdeu o controle emocional ao discursar sobre Lourival, chegando a atirar o microfone que segurava, em um gesto de evidente irritação e descortesia. O motivo da explosão foi uma questão financeira envolvendo a destinação de emendas parlamentares.

Oliveira mencionou que, dos R$ 16 milhões de emendas enviadas à igreja, R$ 4 milhões teriam beneficiado diretamente a congregação de Lourival. “Nunca recebi um telefonema de agradecimento, pelo contrário, quando ele teve a oportunidade de me criticar…”, disse o presidente da igreja, antes de lançar o microfone, visivelmente enfurecido.

O episódio não passou despercebido e logo repercutiu entre internautas e membros do mundo gospel em todo o Brasil. As críticas e o gesto de fúria de Oliveira deram visibilidade ao conflito interno, que já vinha se desenrolando nos bastidores.

Lourival, por sua vez, é conhecido por sua grande influência política e postura de independência dentro da Igreja Quadrangular, frequentemente divergindo das escolhas políticas da instituição. Ao longo dos anos, ele se recusou a apoiar candidatos indicados pela própria igreja, como os ex-deputados Josué Bengtson e Paulo Bengtson, o deputado estadual Martinho Carmona (MDB) e o vereador Paulo Queiroz (MDB).

Essa independência tem feito de Lourival um alvo de disputa entre políticos locais. Diversos parlamentares paraenses são conhecidos por buscar seu apoio, utilizando a visibilidade da Catedral da Família como plataforma para reforçar uma imagem de religiosidade.

A situação dividiu opiniões entre os fiéis. Muitos seguidores da igreja usaram as redes sociais para expressar solidariedade a Lourival, defendendo-o das críticas de Oliveira e destacando sua importância para a comunidade religiosa e política em Belém. O episódio continua a gerar discussões, levantando questões sobre poder, influência e política dentro de uma das maiores denominações evangélicas do país.

VEJA AS IMAGENS

Os rolos do presidente da IEQ

O pastor Mário de Oliveira, líder nacional da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) e ex-deputado federal por sete mandatos, é uma figura marcada por controvérsias que têm impactado tanto sua carreira política quanto sua liderança religiosa. Com um histórico recheado de polêmicas e acusações judiciais, Oliveira enfrenta uma série de processos que questionam sua conduta, tanto na vida pública quanto na esfera eclesiástica.

Durante seus anos na política, Mário renunciou ao cargo de deputado em 2013, em meio a graves acusações que incluíam ameaça, desvio de recursos públicos, corrupção de testemunhas, sonegação fiscal e até mesmo tentativa de homicídio contra o deputado federal e colega dele, Carlos Willian. Em uma manobra estratégica, conseguiu transferir a investigação da Polícia Federal para a Polícia Civil, fazendo o caso regredir e recomeçar do zero, sob menor supervisão.

Em 2021, Mário enfrentou nova derrota judicial ao perder um processo contra o pastor Rinaldi Digilio, ex-integrante da IEQ que fundou sua própria denominação, a Quadrangular Família Global. O embate judicial girava em torno de uma série de vídeos publicados por Rinaldi, em que ele criticava Mário e expunha supostas irregularidades cometidas pelo líder religioso.

O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu em favor de Rinaldi, considerando que, dado o papel público e de liderança de Mário, ele estava sujeito a críticas, especialmente após ser alvo de uma matéria jornalística e investigação policial relacionada a desvio de verbas. Mário de Oliveira não só perdeu o processo como foi condenado a arcar com as despesas processuais e honorários advocatícios.

Além disso, em uma convenção da IEQ realizada em 2023, Mário voltou a protagonizar uma situação polêmica e bizarra. O evento, que reuniu cerca de 5.000 pastores em Itajaí (SC) e tinha ingressos a aproximadamente R$ 300 cada, teve um momento peculiar quando o pastor compartilhou uma história sobrenatural.

Segundo ele, durante uma caminhada em sua fazenda, teria encontrado uma “cabecinha branca” no meio da mata, que se revelou ser uma caveira de 630 anos, supostamente descendente de Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas. Mário descreveu ter tido diálogos com a caveira, que afirmou ser feliz por ele não ter fugido de medo.

Como lembrança, Mário presenteou os pastores com um item macabro: uma miniatura de uma caveira em um caixão, acompanhada de uma mensagem bíblica sobre a mortalidade.

Críticas à gestão financeira da igreja também rondam o pastor. Entre 2001 e 2003, ele foi acusado de desviar R$ 1,1 milhão da Prefeitura de Contagem (MG), em um esquema de convênios fraudulentos com uma ONG. Embora tenha negado as acusações, alegando ser vítima de uma armação, a Promotoria do Patrimônio Público continuou a pressionar por respostas.

Internamente, Mário também gerou controvérsias ao introduzir um curso chamado “Escola de Sabedoria e Revelações”, vendido de forma quase compulsória a pastores da denominação. Este curso, promovido por ele como ferramenta para alcançar sucesso em todas as áreas da vida, gerou questionamentos sobre o uso dos recursos dos fiéis e a necessidade de cursos pagos para lideranças.

O caso mais recente é a disputa com o pastor Rinaldi Digilio, que intensificou a exposição das fragilidades na liderança de Mário de Oliveira. As acusações, incluindo o uso de poder para silenciar opositores, ameaçam a reputação de um dos líderes mais influentes da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil, cuja trajetória continua sendo um tema de intenso debate, tanto dentro quanto fora da comunidade religiosa.

Pastor Lourival: entrevista ao Ver-o-Fato

Em entrevista exclusiva ao Ver-o-Fato concedida ontem, 15, por meio de aplicativo de mensagens, o pastor e líder da Catedral da Família, Lourival Matos Pereira, rebateu as acusações a ele imputadas. Segundo o líder evangélico, ele não tem nenhuma dúvida em afirmar que o homem que tenta desconstruir com “narrativas” sua imagem perante a imensa comunidade evangélica paraense e nacional, tem nome e sobrenome: pastor Mário de Oliveira. “Eu o estou processando e vou ganhar essa batalha”, garantiu Pereira. Veja, abaixo, a íntegra da entrevista.

VER-O-FATO – Pastor, são várias acusações contra o senhor feitas por seu adversário, além de uma apuração em andamento no Ministério Público do Pará. Isso não desgasta demais, não apenas a sua imagem e daquele que o acusa, como a própria imagem da Igreja Quadrangular do Brasil perante os evangélicos?.

Lourival Pereira – Infelizmente, a gente está vivendo esse lamentável episódio com esse presidente. Esse presidente, se você pesquisar a vida dele, ele foi deputado federal, ia ser cassado por dividir dinheiro, aí renunciou para baixar para a primeira instância, para tentar lá em Minas resolver o problema dele. Ele também é acusado de mandar matar pessoas. Isso denigre a imagem da nossa igreja. Ele tem pregado muitas heresias. Então, a imagem dele a nível de instituição é a pior possível.

VER-O-FATO – O centro dessa disputa seria a igreja do Guamá. O pastor Mário de Oliveira quer tirá-lo dessa igreja de qualquer maneira. O que é a Catedral da Família?

Lourival Pereira – Como eu me destaquei muito, saí de uma igreja de 200 pessoas para agora 8 mil pessoas, ele me vê como uma ameaça ao processo, ao trabalho… A ideia de ter o poder sempre, passar para os sobrinhos, para a esposa, ele me vê como uma ameaça de quebrar esse projeto de poder que ele tem. Então, ele começou a me perseguir, me denegrir, ele não me conhece a nível de empresário, ele não sabe… Na minha vida, se você tem uma ideia, eu tenho documentado na igreja, em ata, Dinheiro que eu emprestei para a igreja. Então, ele está querendo denegrir minha imagem e, de fato, esse episódio todo está manchando muito a imagem da nossa igreja. A intenção dele é me pressionar para eu sair. Essa é a intenção dele, porque sou uma ameaça para ele. Mas eu nunca quis o lugar dele. Eu sempre quis fazer meu trabalho, com muito amor, que eu tenho aqui pelo Guamá. É uma igreja que cresceu muito. Então, realmente denigre a imagem da nossa instituição. Isso é lamentável.

VER-O-FATO – Que processos são esses que estariam em andamento contra o senhor? Coisas graves?

Lourival Pereira – Eu tô tranquilo porque eu tô processando ele, eu não tenho nenhum processo contra mim, nenhum, pode procurar. Ninguém me processou de nada, eu sou uma pessoa limpa, graças a Deus. O único processo que eu tenho é de um evento que eu fiz no Louvor Norte, uma pessoa bateu o dedo, a gente tá ajustando isso na justiça, machucou o dedo, perdeu um dos dedos por causa da multidão lá do evento. Mas fora isso, eu não tenho processo nenhum. Eu também tô tranquilo. Meus advogados estão cuidando do caso. Mas por trás de tudo isso é o medo que ele tem da minha ascensão. Hoje eu sou a maior igreja do Brasil. Como é que alguém que constrói um patrimônio daqui vai desviar dinheiro? Pelo amor de Deus, isso é um absurdo. Mas ele está no jogo dele. Vamos ver. A gente vai se defendendo também. Eu já fiz quatro processos contra ele por calúnia, difamação. E realmente é desagradável.

O líder religioso da Catedral da Família, no bairro do Guamá, em Belém: pastor Lourival Pereira

VER-O-FATO – O pastor Mário de Oliveira, ao que parece, só vai sossegar quando afastar o senhor da direção da igreja do Guamá. Ele tem apoio no Pará para conseguir esse objetivo?

Lourival Pereira – Não, não tem. Eu tenho total apoio do Conselho Estadual, do pastor Josué. É isso que está incomodando ele, porque ele não tem esse poder estatutariamente de me tirar. Quem tem o poder de me tirar é o Conselho Estadual. É que eu sou uma igreja local. E ele está tentando, está brigando com o pastor Josué, está perseguindo também o pastor Josué. E eles estão tentando, de todas as formas, aparelhar todo o Brasil com pessoas dele. Então, a intenção dele no futuro é tirar o pastor Josué. e colocar alguém dele. Então, a gente está todo unido aqui contra essas aberrações desse homem.

VER-O-FATO – Pode tentar uma intervenção. E aí?

Lourival Pereira – Como bom jornalista, procure puxar a ficha dele. Agora, os próximos passos são ele tentar fazer uma intervenção no Pará para tentar realizar os desejos que ele tem conosco. Mas a gente está preparado para ele. Existe uma justiça, existe lei, e a gente está, com todo o nosso corpo jurídico, trabalhando nisso. Quando eu digo nós, é o Estado todo. Porque ele está passando dos limites. Ofendeu a pastora Marilene, ofendeu o pastor Azuel, o filho dele, veio aqui. Ele foi até vaiado aqui numa reunião que ele fez para 5 mil pessoas. O pessoal não aceita mais ele como presidente. Ele está louco para tentar dominar o Pará, mas não vai conseguir. A gente tá se preparando, eu tô preparado, eu tô lá no Guamá 25 anos, 26 anos agora eu fiz, 26.

VER-O-FATO – Não conheço o interior da igreja do Guamá, mas me disseram que é imensa, moderna, bonita, cabe multidão lá dentro, os cultos estão sempre lotados.

Lourival Pereira – Aquilo só cresceu, não sei se você conhece a minha igreja, a história dela, só cresceu e isso assustou ele (Mário de Oliveira), porque a gente é muito querido no Brasil inteiro. Ele tá perseguindo os meus amigos, pra você ter uma ideia. Dois pastores que, quando ele denegriu a minha imagem publicamente num culto, vários pastores bateram foto comigo e dois eram superintendentes, que é o pastor de uma região. E quem bateu foto comigo, ele tirou da superintendência, porque isso é um cargo do Conselho Nacional, ele pode fazer isso. Só porque bateu foto comigo, esse pessoal tá processando ele também. Então, ele tá querendo isso, vamos aguardar. tanto judicialmente quanto administrativamente, os próximos passos para a gente poder agir. Nós estamos agindo, se antecipando algumas coisas e se preparando para qualquer outro ataque. Então, por enquanto, está nesse ponto. Mas eu estou à sua disposição,. Quero te agradecer pelo teu profissionalismo, de ouvir o outro lado e poder nos ajudar, divulgando essas informações.