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Áudios detalham discussão sobre tentativa de golpe envolvendo militares no governo Bolsonaro

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Data: 23/02/2025 23:06:31

Fonte: oglobo.globo.com

Áudios obtidos pela Polícia Federal ao longo da investigação sobre uma trama golpista para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder detalham discussões entre militares e civis a respeito do assunto. As conversas, reveladas pelo Fantástico, da TV Globo, indicam que oficiais do Exército incitaram manifestantes que estavam acampado em frente ao Quartel-General da Força, em Brasília, e que invadiram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.

Um desses áudios foi enviado pelo tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, então lotado no Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), no qual ele diz que os acampados deveriam “descer” para o Congresso, o que acabou ocorrendo. O militar foi um dos 34 indiciados pela Procuradoria-Geral da República por tentativa de golpe e de abolição violenta do Estado de direito na semana passada.

“Eu acho que o pessoal podera fazer essa descida. E ir atravancando mesmo. Porque a massa humana chegando lá, não tem PM que segure.Vai atropelar a grade e vai invadir. Depois não tira mais”, diz Almeida na mensagem de voz. “Não adianta protestar na frente do QG do Exército, tem que ir para o Congresso. E as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum poder”, completa ele.

Em outro áudio apreendido pela PF, o general Mario Fernandes, que era o número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, pede ao tenente-coronel Mauro Cid que peça a Bolsonaro para que interfira a fim de evitar uma ação contra os acampados em frente ao QG do Exército. Cid era ajudante-de-ordens do então presidente e um de seus auxiliares mais próximos.

“Parece que existe um mandado do TSE ou do Supremo, em relação aos caminhões que estão lá. Já andou havendo prisão realizada ali, pela Polícia Federal. Se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça, para segurar a PF. Eu estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas pô, se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar. Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro, como os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG”, diz Fernandes a Cid.

Fernandes também faz um pedido similar ao general Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice dele em 2022. “Se o senhor puder intervir junto ao presidente, falar com o ministro Anderson. Segurar a PF, para esse cumprimento de ordem. Ou com o Comandante do Exército, para a gente segurar, proteger esses caras ali.”

Em outro áudio, Fernandes também pediu que Bolsonaro fosse “blindado” contra qualquer influência para desistir de participar de uma trama golpista. “Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o Comandante da Força foi ao Alvorada, para sinalizar ao presidente que ele podia dar a ordem. Se o senhor está com o presidente agora e ouvir a tempo, blinda ele contra qualquer desestímulo. Isso é importante, kid preto. Força.”

A defesa do general tem negado qualquer envolvimento dele em uma trama golpista. Ao Fantástico, os advogados de Fernandes disseram que não tiveram acesso completo ao conteúdo resultante das quebras de sigilo e que a denúncia apresenta apenas trechos desconexos.

A PF também apreendeu um áudio de Cid, que fechou um acordo de delação premiada, em que o ex-ajudante de ordens diz que Bolsonaro editou uma minuta golpista. “Ele entende as consequência do que pode acontecer. Hoje ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo mais direto, objetivo e curto. E limitado, né?”, diz o ex-ajudante-de-ordens.

De acordo com a acusação da PGR, Bolsonaro cometeu os crimes de organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do estado democrático de direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

A investigação lista provas que, para a PGR, comprovam que o ex-presidente analisou e pediu alterações no texto de uma minuta golpista. Entre as propostas aventadas nesse texto estava a possibilidade de prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Conforme as apurações, Bolsonaro pediu para retirar os nomes de Gilmar e Pacheco da minuta. A defesa do ex-presidente nega que ela tenha participado de uma trama golpista.