Quem diria que os peixes poderiam reconhecer humanos? Um estudo recente realizado no Mediterrâneo revelou que algumas espécies de peixes selvagens são capazes de distinguir diferentes humanos com base em pistas visuais. Essa descoberta questiona nossa percepção da inteligência animal e abre novas perspectivas para o estudo do comportamento dos peixes.

Estudos anteriores já haviam mostrado que peixes em cativeiro conseguiam distinguir rostos humanos em imagens. No entanto, este novo estudo é o primeiro a ser realizado com peixes selvagens em seu habitat natural.

Os dois mergulhadores usando (A) equipamentos de mergulho diferentes (experimento 1) e (B) equipamentos de mergulho idênticos (experimento 2).

Uma equipe do Instituto Max Planck de Comportamento Animal (MPI-AB), na Alemanha, trabalhou em colaboração com mergulhadores experientes para estudar o comportamento de duas espécies de peixes: a oblada (Oblada melanura) e o sargo (Spondyliosoma cantharus).

Peixes “voluntários” e cooperativos

Os pesquisadores primeiro acostumaram os peixes a seguir uma mergulhadora específica, associando-a a uma recompensa alimentar. Durante vários dias, a mergulhadora alimentou os peixes no final de seu trajeto, criando assim uma associação positiva. Os peixes rapidamente aprenderam a reconhecer a mergulhadora e a segui-la.

Em seguida, um segundo mergulhador se juntou ao experimento. Os peixes foram então confrontados com uma escolha: seguir o mergulhador familiar ou o recém-chegado. Os resultados foram inequívocos: após inicialmente se distribuírem aleatoriamente entre os dois mergulhadores e aprenderem com sua experiência (apenas um dos mergulhadores tinha comida), os peixes passaram a seguir majoritariamente o mergulhador que haviam aprendido a associar à comida.

No entanto, se os peixes conseguiam distinguir facilmente os mergulhadores quando estes usavam equipamentos diferentes, isso se tornava mais difícil quando os dois mergulhadores usavam equipamentos idênticos. Isso sugere que os peixes usam pistas visuais, como a cor e a forma dos equipamentos, para reconhecer os humanos.

As implicações dessa descoberta

Este estudo revela que os peixes possuem capacidades cognitivas mais complexas do que se pensava. Eles são capazes de aprender, lembrar e distinguir humanos, o que demonstra uma forma de inteligência. Essa descoberta questiona nossa visão antropocêntrica do mundo animal e nos convida a reconsiderar nossa relação com outras espécies.

Este estudo também abre novas perspectivas para a pesquisa sobre o comportamento animal. Ele mostra que é possível estudar as capacidades cognitivas dos peixes em seu ambiente natural, utilizando métodos inovadores e respeitosos.

Para ir mais longe: Visão e aprendizado nos peixes, muito mais do que simples reflexos

Ao contrário do que se pensa, a maioria dos peixes não vê o mundo em preto e branco. Eles possuem uma visão de cores frequentemente muito desenvolvida, comparável à dos humanos. Essa capacidade lhes permite distinguir diferentes cores e nuances, o que é essencial para se orientar em seu ambiente, caçar suas presas e se comunicar com seus semelhantes.

A visão dos peixes é adaptada ao seu modo de vida e ao seu habitat. Os peixes que vivem em águas claras e rasas têm uma visão semelhante à dos animais terrestres, com uma boa percepção de detalhes e cores. Já os peixes que vivem em águas mais escuras ou turvas têm uma visão mais sensível à luz, o que lhes permite detectar movimentos e formas mesmo em condições de pouca luminosidade.

O aprendizado é uma capacidade essencial para os peixes, permitindo que se adaptem a um ambiente em constante mudança. Como demonstra o estudo mencionado anteriormente, os peixes são capazes de aprender a reconhecer indivíduos, associar estímulos a recompensas ou perigos e modificar seu comportamento de acordo. Estudos mostraram que os peixes podem aprender a resolver problemas, reconhecer formas e padrões e até mesmo lembrar a localização de comida ou obstáculos.