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Fevereiro Roxo alerta para a importância do suporte emocional a pacientes com doenças crônicas

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Data: 25/2/2025 20:56:10

Fonte: oliberal.com

O mês de fevereiro é marcado por diversas campanhas de conscientização sobre a saúde, entre elas o Fevereiro Roxo, que busca informar a população sobre doenças crônicas e degenerativas, como Alzheimer, Lúpus e Fibromialgia. Além dos desafios físicos, essas enfermidades impacta​m a saúde mental dos pacientes, tornando essencial o suporte psicológico e emocional.

A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) informou que 1.556 pacientes recebem medicamentos para o tratamento do Lúpus no estado. No entanto, por não ser uma doença de notificação obrigatória, não há um levantamento oficial sobre o número total de pessoas diagnosticadas.

Já em Belém, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) destaca que a Atenção Primária à Saúde é responsável por identificar sinais de alerta para o Lúpus. Caso necessário, o paciente é encaminhado para um reumatologista pelo Sistema de Regulação Municipal (Sisreg), garantindo atendimento especializado em clínicas conveniadas.

Entre 2 de fevereiro de 2024 e 31 de janeiro de 2025, a rede municipal registrou 314 atendimentos de pessoas com diagnóstico fechado da doença. Segundo a Sesma, os serviços de referência garantem mais confiabilidade na contagem de casos, pois oferecem acompanhamento especializado e exames complementares.

A psiquiatra Daniele Boulhosa destaca que o acompanhamento adequado permite que os pacientes desenvolvam estratégias para enfrentar a doença e manter a qualidade de vida. “O suporte psicológico ajuda a fortalecer a capacidade de enfrentamento, promovendo o bem-estar emocional necessário para lidar com os desafios cotidianos”, afirma a especialista.

Além dos próprios pacientes, familiares e cuidadores também enfrentam dificuldades emocionais ao lidar com a rotina de cuidados. Nesse contexto, grupos de apoio, terapia e acesso a informações são ferramentas essenciais para garantir equilíbrio e resiliência. “O apoio emocional é uma chave para lidar com as dificuldades diárias e para prevenir o desgaste psicológico. Ele oferece a oportunidade de compreender melhor a condição do paciente e criar estratégias que promovam não apenas o cuidado físico, mas também a saúde mental de todos os envolvidos”, acrescenta Daniele.

A especialista reforça ainda a importância da inclusão social para pessoas que vivem com doenças crônicas, destacando que a compreensão e o acolhimento devem se estender para além do ambiente familiar e médico. “Com mais compreensão e empatia, a sociedade pode proporcionar uma vida mais digna e menos estigmatizada para aqueles que enfrentam essas doenças, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida em todas as esferas da vida social”, conclui.

Para quem convive com a enfermidade, os desafios vão além do tratamento médico, afetando a saúde emocional, a rotina e a qualidade de vida. É o caso da professora Salém Maria Negrão Ferreira, de 31 anos, que há cinco anos recebeu o diagnóstico de Lúpus. Desde então, ela lida diariamente com os impactos físicos e psicológicos da doença.

Salém relembra que, no primeiro momento, a descoberta da doença trouxe mais alívio do que preocupação, pois finalmente teve um diagnóstico que explicava seus sintomas. No entanto, com o tempo, os desafios emocionais começaram a surgir. “Creio que os maiores impactos de se conviver com uma doença crônica como o Lúpus é justamente o fato de ela ainda não ter cura, apenas remissão. Esse veredito de que você vai ter que conviver com essa nova realidade por toda a sua vida a partir do diagnóstico traz uma espécie de ‘fardo’ emocional muito grande”, explica.

A incerteza sobre a progressão da doença também gera ansiedade. “Há também a imprevisibilidade da doença. Por ser uma doença sistêmica e inflamatória provocada por uma desregulação no sistema imunológico, qualquer coisa que estimule as defesas do corpo também pode fazer com que o Lúpus entre em atividade. Estresse, cirurgias, procedimentos estéticos invasivos, exposição à radiação solar, tudo isso pode agravar a inflamação causada pela doença. Então a possibilidade de que amanhã eu não esteja bem desperta crises de ansiedade, períodos de tristeza profunda, etc.”

Os sintomas do Lúpus vão além da dor e do cansaço. A professora relata que as alterações físicas provocadas pela doença também afetam sua autoestima. “As mudanças que o Lúpus provoca na aparência também impactam na autoestima. Queda de cabelo, perda ou ganho de peso, algumas pessoas têm lesões de pele e sofrem preconceito por causa disso. A inflamação das articulações e a rigidez matinal também provocam sentimento de impotência porque nos períodos de atividade da doença eu dependo de outra pessoa para trocar de roupa, abrir uma torneira ou uma garrafa, por exemplo”, disse.

Além disso, a rotina de tratamento exige tempo, esforço e recursos financeiros. “A rotina exaustiva de consultas, exames e tratamentos causam impacto financeiro e, consequentemente, emocional. Por ser uma doença sistêmica (que pode afetar vários órgãos), é necessário acompanhamento multidisciplinar, com reumatologista, oftalmologista, nefrologista, oftalmologista, entre outros”, declarou a professora.

Apesar dos desafios, Salém encontrou no apoio familiar e na fé um alicerce para enfrentar a doença. “O diagnóstico de imediato não me gerou tanta preocupação, mas um certo alívio por eu finalmente descobrir o que exatamente eu tenho e que há tratamento para o Lúpus. Porém, após um certo período convivendo com a doença, o desgaste emocional foi inevitável e passei a ter crises de ansiedade. Procurei focar no tratamento e fortalecer minha rede de apoio, que é minha fé, família e amigos”, reconheceu.

Para manter o equilíbrio mental, a professora aposta em estratégias que a ajudam a lidar com as limitações do corpo e com os desafios emocionais. “Para manter o equilíbrio mental, busco fortalecer minha fé/espiritualidade, busco apoio em minha família, mantendo-a ciente do meu tratamento, das minhas fragilidades e do meu estado emocional. Procuro também realizar alguma atividade física, como caminhar e pedalar, e me manter ativa sendo útil no meu trabalho, desempenhando meu papel social, e tentando me adaptar à realidade de um corpo com Lúpus”, finalizou.