Carnaval 2025: comentaristas do GLOBO apontam os destaques da primeira noite de desfiles do Grupo Especial
Data: 03/03/2025 04:30:11
Fonte: oglobo.globo.com
A primeira noite dos desfiles do Grupo Especial teve Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Viradouro e Mangueira cruzando a Marquês de Sapucaí. Pela primeira vez, em 40 anos, este foi o primeiro de três dias de desfile da elite do carnaval carioca.
Foi também a primeira noite com mais tempo para as escolas cruzarem a Avenida: a partir deste ano, cada escola de samba do Grupo Especial do Rio terá entre 70 e 80 minutos para cruzar a Marquês de Sapucaí.
Veja abaixo as análises dos comentaristas do GLOBO sobre os quatro desfiles desta primeira noite do Grupo Especial.
Abrindo o desfile de 2025 do Grupo Especial, a escola da Zona Oeste que voltou à elite do carnaval carioca apresentou o enredo “Egbé Iyá Nassô”, com o qual presta uma homenagem à história do primeiro terreiro de Candomblé do Brasil, destacando a resistência do povo negro e a força das mulheres africanas na luta pela fé e identidade.
A recepção do público nos primeiros setores da Sapucaí já evidenciava que era o momento de extravasar essa expectativa. No discurso antes de entrada da escola, a diretora Lara Mara convocou a plateia: “Vila Vintém é terra de quê?”. E o povo respondia: “Macumbeiro”. A Avenida foi banhada de dourado pela Unidos de Padre Miguel para desfilar africanidade.
O luxo (às vezes obtido pelo efeito de materiais até simples) estava em cada fantasia. Mas de tão correto o desfile, ficou a sensação de que faltou aquele impacto das grandes apresentações da UPM em anos anteriores, na Série Ouro. Nas alegorias (outro quesito que costuma impressionar na agremiação), a última foi a mais aplaudida. A escola estava com o regulamento embaixo do braço, para lutar pela permanência no Grupo Especial. Mas foi o suficiente para encantar?
Na pré-temporada de sua sonhada volta ao Grupo Especial, a Unidos de Padre Miguel sempre esteve “grandona” nos ensaios. Mas no desfile, a hora de se consagrar, pareceu ter sentido a responsabilidade de tentar sobreviver na elite e passou tímida. Luxuosa, com fantasias pesadas, não seguiu o grito de guerra da diretora de carnaval Lara Mara.
Tem atributos para ficar no grupo, mas será com emoção. Mas, atravessar a Avenida teve um significado ainda mais especial para a porta-bandeira Jéssica Ferreira. Em 2017 ela caiu após o torcer o joelho, inviabilizando o acesso à elite. Ela passou por cirurgia, se recuperou e passou impecável, de branco, representando a corte de Oyó. A emoção de Jéssica estava estampada em seu rosto, enquanto vivia sua redenção carnavalesca.
A Unidos de Padre Miguel, sempre marcada pela garra e pela animação, foi soterrada pelo luxo em sua chegada ao Grupo Especial. Em um desfile sem grandes defeitos técnicos, apresentou um trabalho luxuoso, porém genérico, e o samba-enredo não se sustentou.
A Unidos de Padre Miguel abriu os desfiles do Grupo Especial do carnaval 2025 como uma escola que há muito tempo vinha tentando chegar a esse lugar, batendo na trave dos grupos de acesso, muitas vezes, há muitos anos, quase chegando. Neste ano, finalmente, chegou. E a estratégia da escola foi chegar grandiosa. Vimos muito a característica do carnavalesco Alexandre Louzada na escola, com costeiros altos, fantasias grandes, luxo, imponência, o que casou muito bem com essa tentativa da Padre Miguel de chegar pisando forte, chegar mostrando o seu tamanho.
Carnaval 2025: Veja fotos do desfile da Unidos de Padre Miguel
A agremiação de Ramos trouxe como enredo “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón”, que conta a história da saga de Oxalá ao reino de Oyó para visitar Xangô.
Todos os fundamentos para um desfile para brigar pelo campeonato e conquistar o público, a Imperatriz teve. As fantasias e alegorias do carnavalesco Leandro Vieira eram impecáveis. A escola se apresentou alegre, com a força da comunidade do Complexo do Alemão e da Leopoldina, como deve ser numa festa de carnaval. Como no ano passado, a escola entrou quente, vibrante, com os componentes quicando na pista. Para completar, o Oscar para “Ainda estou aqui” de melhor filme estrangeiro, anunciado bem no meio do desfile, animou ainda mais o público, que já se agitava com a passagem da atual vice-campeã do carnaval. E um sinal de quando a escola vai bem: até os empurradores dos carros brincam, sambam, fazem coreografias.
O carnavalesco Leandro Vieira escolheu contar uma história tradicional – um itan, em iorubá – na qual Oxalá vai visitar Xangô e passa por percalços na viagem até a redenção. O visual impecável apresentou alegorias e fantasias brancas (de Oxalá) à exceção do lindo carro do reino de Oyó (de Xangô). Com tudo muito bem realizado, sem problemas de acabamento, a Imperatriz deu seu recado sem erros. Apenas o último carro, que juntou a pomba – símbolo de Oxalá – com a coroa da escola, esteve abaixo dos outros. Grande trabalho.
A apresentação da Imperatriz, seguindo-se à Unidos de Padre Miguel, tem sobretudo um caráter didático: enredos “afro” não são todos iguais, e muito menos o público não os entende. Mais uma vez sob a batuta de Leandro Vieira, a escola de Ramos emocionou o divertiu a plateia com o Itan de Oxalá, enredo supostamente “difícil”, que foi apresentado de forma clara, com extremo bom gosto e um show à parte de samba e bateria. Sarrafo bem no alto (da pedreira) já na segunda escola da primeira noite.
Desfile impecável da Imperatriz, com um enredo que conta a visita de Oxalá a Xangô. Passamos por todas as emoções desse enredo, como o começo com a paz e a tranquilidade de Oxalá, depois o mistério com a tábua de Ifá, depois a revolta, o medo quando Oxalá é preso. O desfile foi sensacional, com uma escola muito bem vestida, carros lindos do carnavalesco Leandro Vieira, que consegue fazer carros de um tamanho razoável, sem aquela imponência, grandiosidade, mas com bom gosto, muito impressionante. Destaque também para o encaixe perfeito do samba com a bateria.
Carnaval 2025: Veja fotos do desfile da Imperatriz Leopoldinense
A atual campeã do carnaval carioca contou o enredo “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos”, desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, sobre o grande herói do século 19, líder do Quilombo do Catucá, no Norte de Pernambuco.
A Viradouro novamente mostrou sua potência na Passarela. Carros com movimentos, fantasias com grande diversidade de material, uso de tecnologias como drones e holografia e formas desafiadoras nas estruturas das alegorias foram marcas do desfile assinado pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. Ao, literalmente, botar fogo na Avenida, a comissão de frente da Viradouro deu o tom do desfile da Vermelho e Branco.
Misturou tecnologia com elementos tradicionais que remetem ao personagem central do enredo, o Malunguinho. Chapéus de palha voaram pela Sapucaí, com drones escondidos dentro do acessório. Tudo conjugado com uma bela coreografia e muita dramaticidade.
No início do desfile da campeã Viradouro já se via a expectativa do público, que cantava os refrãos do samba-enredo, um dos mais populares do ano. No coloridíssimo desfile pilotado pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, no entanto, não se viu a história de Malunguinho, o mensageiro de três mundos, contada com clareza: conflitos de cores, abuso do recurso de apagar as luzes para destacar setores e um samba com andamento oscilante fizeram a luta pelo bi ficar mais difícil.
O Malunguinho da Viradouro teve a imponência e o luxo que viraram assinatura da máquina niteroiense de carnaval. Alegorias impressionantes e fantasias lindas em todas as alas contaram a história da inovação que encarnou em João Batista no terreiro do Catucá. A evolução com o bom samba não acompanhou o visual. A Vermelho e Branco parou diversas vezes na pista e precisou apertar o passo no fim.
A comissão de frente do casal Priscila Mota e Rodrigo Negri justificou, novamente, a fama, com nova criação magistral, traduzindo em carnaval a saudação a Malunguinho. A Viradouro confirmou seu status de dominante. Mas se o bi vier, não será com a goleada de carnaval do ano passado, mas no aperto.
Carnaval 2025: Veja fotos do desfile da Unidos do Viradouro
O esmero estava em cada detalhe do desfile da Mangueira, que marcou a estreia no Rio do carnavalesco Sidnei França, hiperexperimentado em São Paulo. Num dos carros, Oxum foi posta num relicário e, na traseira, a frase “Salve as macumbas” aparecia sobre uma imagem de São Jorge. Num tripé, a palavra cuíca era escrita com o próprio instrumento.
Na última alegoria, a escultura de um cria da Mangueira coroado, além de um coração com a expressão “fé nos cria”. A escola veio “grandona”, com um abre-alas gigantesco. Talvez tenha tido o enredo de mais fácil leitura da noite, ao contar a influência banto no Rio. Também levantou o público com a comissão de frente. Mas houve uma ou outra falha. A evolução um tanto lenta no início, o peso de algumas fantasias e um samba que não sustentou a animação todo o tempo deixam pontos de interrogação.
A bateria foi o grande destaque do desfile da Mangueira, desdobrando-se para animar um samba fraco e pouco cantado pelo público. Estreante no carnaval carioca, o carnavalesco Sidnei França (vindo de São Paulo) teve acertos, como o carro alegórico do mercado, um dos mais bonitos da noite, e erros como a pouca exploração da contemporaneidade do enredo, sobre a presença da cultura banto no Rio. Apesar de oscilar na parte visual, a Verde e Rosa usou seu carisma para puxar um quilométrico arrastão e encerrar a primeira (e curta) noite de Grupo Especial.
Carnaval 2025: Veja fotos do desfile da Mangueira
Veja a ordem dos desfiles da primeira noite do Grupo Especial
- Unidos de Padre Miguel (22h)
- Imperatriz Leopoldinense (entre 23h30 e 23h40)
- Viradouro (entre 0h50 e 1h10)
- Mangueira (Entre 2h e 2h20)