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O silêncio bolsonarista sobre o Oscar vencido por ‘Ainda Estou Aqui’

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Data: 03/03/2025 10:40:56

Fonte: veja.abril.com.br

O último domingo, 3, foi um marco na história do cinema nacional: indicado a três categorias no Oscar, o filme Ainda Estou Aquilevou a estatueta de Melhor Filme Internacional, tornando-se o primeiro longa-metragem brasileiro a conquistar o feito. A repercussão foi amplificada pelo clima do Carnaval, e o burburinho pela celebração da vitória tomou conta das redes sociais.

Um segmento, porém, decidiu ficar de fora da festa: a ala bolsonarista na política nacional. Enquanto massas de brasileiros comemora a conquista alcançada em Hollywood, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro permanecem calados sobre o fato. Nem o capitão, nem seus filhos parlamentares — Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro — comentaram o Oscar nas redes, tampouco os aliados no Congresso mais próximos ao ex-mandatário.

Até o momento, a repercussão digital limitou-se aos bolsonaristas do baixo clero na Câmara, que utilizaram suas contas para minimizar o sucesso do filme e debochar da vitória. O deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) disse que a derrota nas outras duas categorias que disputava — Melhor Filme e Melhor Atriz, para Fernanda Torres — foi resultado da “politização” do filme pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela primeira-dama, Janja da Silva.

Postura semelhante teve o deputado federal Mário Frias (PL-SP), que chamou o Oscar de “autocongratulação da extrema esquerda”. Já a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) — ex-estrela do bolsonarismo, hoje escanteada do entorno de Bolsonaro devido a enroscos na Justiça — limitou-se a publicar uma irônica montagem de Lula como vencedor de “Oscar de pessoa mais sem vergonha do ano”.


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Sucesso de filme contra a ditadura irrita a direita e mobiliza Justiça

O silêncio de Bolsonaro e as queixas de aliados menores sobre o Oscar são compreensíveis, considerando o teor de Ainda Estou Aqui, fortemente crítico à ditadura. O filme narra a história do ex-deputado comunista Rubens Paiva (vivido por Selton Mello), torturado e morto pelo regime militar que assumiu o país em 1964, e o drama de sua esposa, Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres).

A defesa do período autoritário é uma marca entre os bolsonaristas mais radicais, que classificam o golpe de 1964 como uma “revolução” para salvar o Brasil do comunismo e, em boa parte, estão envolvidos nas investigações sobre os atentados violentos de 8 de janeiro de 2023 e o plano golpista que resultou na denúncia de Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas ao Supremo Tribunal Federal.

A forte popularidade nacional e internacional do filme motivou uma mobilização das instituições brasileiras sobre os crimes da ditadura militar. Em janeiro de 2025, por ordem do Conselho Nacional de Justiça, Rubens Paiva e mais de 200 outras vítimas do antigo regime tiveram suas certidões de óbito atualizadas para incluir “morte violenta causada pelo Estado” no motivo do falecimento. Atualmente, há uma discussão em andamento no âmbito do Ministério dos Direitos Humanos para reabrir as investigações sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, até então considerado vítima de um acidente de trânsito em 1976.