‘Ainda estou aqui’: vencedor do Oscar é alvo de boataria nas redes
Data: 05/03/2025 13:03:51
Fonte: estadao.com.br
A campanha vitoriosa de Ainda estou aqui no Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos contou com uma grande mobilização dos brasileiros nas redes sociais. E como tudo o que é viral, circularam postagens com alegações falsas ou enganosas. Os principais alvos da boataria online foram o financiamento da produção, a atriz Fernanda Torres e até a família Paiva, personagem principal do longa-metragem.
Confira a seguir tudo o que o Estadão Verifica checou sobre o primeiro filme brasileiro vencedor do Oscar:

‘Ainda estou aqui’ retrata a vida de Eunice Paiva após o sequestro e assassinato do marido Rubens Paiva pela ditadura militar. Foto: Divulgação do filme ‘Ainda estou aqui’
‘Ainda estou aqui’ contou com recursos próprios
Postagens alegaram falsamente que Ainda estou aqui teria recebido ao menos R$ 1 milhão do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), linha de fomento gerenciada pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), ou até da lei Rouanet de fomento à cultura. Na verdade, a VideoFilmes, produtora majoritária do longa, adotou um modelo de parceria financeira internacional que reúne empresas como a brasileira Globoplay e as francesas Arte-Cinema e Mact Productions.
Fernanda Torres nunca relativizou mortes na pandemia de covid-19
Fernanda Torres foi a cara da campanha do filme no Oscar: ganhou máscaras no carnaval, projeção de drones em bloco e até bonecão de Olinda. Ela interpretou Eunice Paiva, mulher do ex-deputado Rubens Paiva que foi sequestrado e assassinado pelo regime militar. Seu corpo nunca foi encontrado.
A atriz foi alvo de um boato que a acusava de ter publicado frase relativizando mortes por covid-19. A desinformação é antiga, e circulou durante a pandemia após Fernanda postar uma coluna de opinião no jornal Folha de S. Paulo. Os conteúdos enganosos alegavam que ela teria dito que as vítimas da doença teriam o efeito de abreviar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro — algo que ela nunca falou, muito menos no texto tirado de contexto.

Fernanda Torres deu vida a Eunica Paiva, personagem principal do filme. Foto: Sony/Divulgação
Rubens Paiva não era ligado ao PCB e não atuou em guerrilhas
Postagens espalharam informações falsas sobre a vida de Rubens Paiva e um dos principais episódios da luta armada contra a ditadura militar: a guerrilha do ex-capitão do Exército Carlos Lamarca.
Alguns conteúdos enganosos alegavam que Rubens Paiva teria abrigado o grupo armado na Fazenda Caraitá, em Eldorado (SP), de propriedade de seu pai Jaime Paiva. A alegação contradiz informações encontradas em documentos oficiais do Exército Brasileiro.

O ex-deputado Rubens Paiva foi cassado logo após o golpe de 1964 e foi visto pela última vez ao ser preso em janeiro de 1971, no Rio de Janeiro. Foto: Arquivo pessoal
A base da guerrilha de Lamarca ficava na localidade de Capelinha, numa área de mata fechada no município de Jacupiranga (SP). O grupo apenas passou por Eldorado. O episódio ficou marcado por um tiroteio ocorrido em uma praça na cidade, e não na fazenda de Jaime Paiva. O relatório do Exército sobre uma operação de captura de Lamarca não menciona nenhuma vez a fazenda de Jaime Paiva.
Também circulou a informação falsa de que Rubens Paiva teria sido filiado ao PCB e que tivesse lavado dinheiro do grupo de Lamarca, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Na verdade, Rubens foi filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de 1962 a 1964. Ele teve seu mandato cassado pela ditadura militar. Historiadores apontam que antes disso, ele teve vínculos com o Partido Socialista Brasileiro. Não há nenhum registro de que Rubens Paiva conhecesse Lamarca ou apoiasse a luta armada.
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