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MST protesta contra despejo de 110 famílias no Paraná

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Data: 07/03/2025 14:36:11

Fonte: brasildefato.com.br

Cerca de 500 trabalhadores e trabalhadoras rurais marcharam na manhã desta sexta-feira (7) em Reserva do Iguaçu, no centro-sul do Paraná, para denunciar a ameaça de despejo de 110 famílias do acampamento Resistência Camponesa, localizado a cinco quilômetros da área urbana do município.

A manifestação seguiu até a prefeitura, onde os manifestantes realizaram um ato político com café da manhã preparado com produtos da agricultura camponesa, como frutas e panificados. O objetivo é sensibilizar autoridades e a população sobre a gravidade da situação.

O ato contou com a presença do superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-PR), Nilton Guedes, da ouvidora agrária Josiane Grossklaus e do deputado estadual Professor Lemos (PT).

Resistência e luta por terra

A área ocupada pelas famílias é uma das mais de 80 comunidades da Reforma Agrária que ainda lutam pelo assentamento no Paraná. Foto: Ana Clara Garcia Lazzarin/ MST-PR

O pedido de reintegração de posse foi feito em março de 2023. Desde então, as famílias resistem. “Hoje é mais um dia de luta, próximo ao Dia das Mulheres, mas também ao dia marcado para a reintegração, em 10 de março. Por isso estamos aqui, mobilizadas, em apoio a essas famílias, para que possam permanecer em seus lares”, disse Bruna Zimpel, da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).

O acampamento Resistência Camponesa faz parte de um grupo de mais de 80 comunidades no Paraná que aguardam regularização fundiária. No estado, cerca de 7 mil famílias vivem em áreas ocupadas pelo MST.

A marcha faz parte da Jornada Nacional das Mulheres Sem Terra, realizada em todo o país. O lema deste ano é “Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital”.

Ocupação e produção

As famílias ocupam a área há cerca de 20 anos. Durante esse período, construíram moradias e desenvolveram lavouras. Parte da produção é comercializada na feira municipal.

“Agora fazemos parte de uma feira em frente à prefeitura. Vendemos feijão, mandioca, hortaliças, doces e geleias”, afirmou Regiane Gracieli Valter.

Para os agricultores, o despejo representa um risco direto à subsistência. “A gente paga ITR, CCIR [impostos sobre terras], trabalha na lavoura, cria animais e preserva a mata. Eu cuido de tudo sozinha. Este ano colhi 60 sacas de milho, dez de feijão e produzo queijo todo dia para vender. A gente só tem o nosso cantinho. Não nos vemos perdendo tudo e indo morar de aluguel”, disse Isa Pavan Dalló, 55.

Ameaças e violência

Desde o ano passado, as famílias relatam sofrer constantes ataques e intimidações. Foto: Ana Clara Garcia Lazzarin/ MST-PR

Desde o ano passado, moradores relatam ataques e intimidações por parte dos supostos donos da área. Em agosto de 2023, homens armados incendiaram casas na comunidade durante a madrugada. Meses antes, um casal de idosos perdeu a moradia em um incêndio criminoso.

“Tiraram nosso direito de plantar, nosso direito de viver. Estávamos tranquilos, criando nossos filhos, e hoje estamos embaixo de um barraco de lona. Nossa terra está cheia de mato, porque não podemos mais plantar. Quero justiça, estou clamando não só por mim, mas pelas 110 famílias do acampamento”, afirmou a agricultora familiar Loreni de Fátima dos Santos.

Segundo os acampados, milícias privadas têm atuado na área com conivência do poder público. A polícia chegou a realizar operações acompanhada do suposto proprietário, que não consta como dono oficial no registro da terra.

Situação judicial

O Incra-PR manifestou interesse em adquirir a área para assentamento. O processo de desapropriação, previsto na Lei 4.132/62, está suspenso por decisão judicial, mas ainda cabe recurso.

A Comissão de Soluções Fundiárias do Tribunal de Justiça do Paraná conduz tratativas para uma solução negociada.