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Com feriado e epidemia de dengue, UPA Moacyr Scliar registra relatos de demora no atendimento

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Data: 18/04/2025 15:48:45

Fonte: gauchazh.clicrbs.com.br

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Hospital de campanha montado ao lado de UPA na zona norte da Capital.

Inaugurado na quinta-feira (17), o hospital de campanha destinado a casos de dengue na UPA Moacyr Scliar, na zona norte de Porto Alegre, já registra procura por atendimento. Nesta sexta-feira (18), 17 pacientes aguardavam e 12 estavam em atendimento ao final da manhã. Alguns pacientes relatavam longas esperas desde o dia anterior.

O local oferece 30 vagas para atendimento de casos leves de dengue e funciona 24 horas por dia. A estrutura do hospital de campanha é fornecida pelo Ministério da Saúde, e a montagem foi feita pelo Grupo Hospital Conceição (GHC).

A triagem é realizada na UPA Moacyr Scliar, que também é gerida pelo GHC. O encaminhamento do paciente se dá conforme a gravidade do caso. O GHC ainda não divulgou um balanço dos atendimentos até o momento.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e o GHC, haverá reforço na escala de profissionais de saúde no hospital de campanha a partir de terça-feira (22), data prevista originalmente para a instalação da tenda, que foi antecipada. Em outras unidades de saúde em Porto Alegre, não há previsão de reforço ao longo do feriado.

Epidemia de dengue

Porto Alegre decretou situação de emergência em saúde pública por conta da dengue na quinta-feira (17). A medida autoriza uma série de ações para tentar conter o avanço da epidemia e minimizar os impactos na saúde pública. 

A Capital é o segundo município com mais casos de dengue registrados no Rio Grande do Sul: são 18 mil casos suspeitos e 4,3 mil confirmados, além de duas mortes causadas pela doença. A Zona Norte concentra quase metade dos casos de dengue da Capital.

Morador do bairro Mario Quintana, o aposentado José Adão Sabino, 69, chegou às 7h da manhã e aguardava atendimento na tenda montada na UPA. Os primeiros sintomas de dengue se manifestaram na segunda-feira (14). O idoso chegou a procurar um posto de saúde, mas, nesta madrugada, não conseguiu dormir devido à dor e decidiu voltar a procurar atendimento, após ver as notícias sobre o hospital de campanha.

— É uma calamidade. No meu bairro, está terrível — relatou Sabino, destacando que espera que a estrutura temporária ajude a aliviar a situação.

Demora na fila

Na fila, pacientes relataram demora nos atendimentos e longas esperas na UPA — em alguns casos, desde o dia anterior. Aos 92 anos, o sogro de Paulo Oliveira, 57, aguardava atendimento desde as 14h de quinta-feira (17), quando recebeu a classificação de risco de pouco urgente (verde).

Conforme o genro, há casos de dengue na residência, e o idoso apresentou sintomas como cansaço, falta de apetite e febre. Depois de passar por avaliação na UPA, a hipótese de dengue foi descartada, mas o idoso seguiu aguardando atendimento. Às 23h, a família recebeu a recomendação informal de que voltasse para casa e retornasse à UPA pela manhã.

— Não fizeram nenhum exame nele das 14h às 23h — afirmou.

Nesta sexta, após retornar à unidade, o caso do idoso voltou a ser considerado suspeito de dengue e ele foi encaminhado para a realização de exames.

Tânia Leitão, 72 anos, relatou que estava aguardando na UPA desde as 18h de quinta-feira devido à suspeita de dengue. Tendo cansaço como sintoma principal, seu caso também foi classificado como pouco urgente. A idosa chegou a ser atendida às 5h da manhã e recebeu soro, mas aguardava desde então os resultados de dois exames.

— Estou com fome, cansada — reclamou, por volta das 10h.

A situação também foi relatada por pacientes classificados como risco urgente (amarelo) que aguardavam atendimento para outras condições. Em alguns casos, as pessoas afirmaram ter ficado sete horas sem atendimento.

No caso de Lucas Pignoli, 34 anos, morador de Alvorada, o motorista de aplicativo chegou com febre às 20h de quinta, recebeu a classificação de urgência (amarelo), com atendimento inicial às 2h da manhã, mas aguardava até as 10h pela reconsulta. Pignoli já havia procurado a UPA há duas semanas, mas a situação não foi resolvida.

— É dor, estou sem comer, não tem água. É surreal, humilha a pessoa pobre. Chateia, porque tu fica doente e não consegue tratamento — lamentou, acrescentando que o efeito da medicação já havia cessado e pensava em desistir e voltar para casa.

A taxa de ocupação de leitos na UPA nesta sexta é de 271%, de acordo com o painel da Secretaria Municipal de Saúde.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Ocupação de leitos na UPA chegou a 217% da capacidade.

Feriado e epidemia

De acordo com Jesse James, gerente da UPA Moacyr Scliar, o cenário está dentro do esperado, considerando o fechamento dos postos de saúde durante o feriado e a epidemia de dengue. O hospital de campanha também recebe pacientes de outros municípios, o que sobrecarrega ainda mais o serviço destinado aos moradores da Capital, segundo James. Além disso, atendimentos pouco urgentes (classificados como verde) relacionados a outras condições também contribuem para o aumento da espera, visto que a UPA é voltada a atendimentos de emergência.

A triagem é única e recebe pacientes de dengue e outras condições para investigar as suspeitas e realizar o encaminhamento para o atendimento. A prioridade é dada aos casos de maior risco, seguindo o Protocolo de Manchester.

O diagnóstico é clínico, baseado nos sintomas e em eventuais exames como contagem de plaquetas, sem testes rápidos. A decisão sobre hidratação ou internação segue critérios médicos e a classificação de risco, conforme o gerente.

— Na dúvida, tem de vir, mas tem de entender que vai esperar — alertou.

A abertura da tenda foi antecipada, já prevendo maior demanda no feriado, e há pacientes sendo encaminhados para internação, ressaltou James. Há preocupação com o fato de que somente uma unidade de saúde abrirá na região na segunda, conforme o gerente. James frisou que o fluxo acabou de ser implementado e passará por ajustes — e considera o hospital “essencial”.

— Acho que cada pronto atendimento do município deveria ter um ao lado também. Acho que temos de subdividir na cidade esse tipo de atendimento para conseguir dar esse suporte, só um serviço porta aberta como o nosso não tem condições de absorver toda essa demanda no feriado. A gente está com a consciência tranquila de que a gente está fazendo o melhor que a gente pode dentro das condições que a gente tem — destacou, ressaltando que a unidade tem recursos para atender quem eventualmente passar mal durante a espera.

Onde buscar atendimento

Quatro unidades de saúde estarão abertas para atender sintomáticos de dengue na segunda-feira (21), das 9h às 14h. Os serviços abertos são:

  • Unidade de Saúde Passo das Pedras 1 (Avenida Gomes de Carvalho, 510, bairro Passo das Pedras)
  • US Morro Santana (Rua Marieta Menna Barreto, 210, bairro Protásio Alves)
  • US Primeiro de Maio (Avenida Professor Oscar Pereira, 6199, bairro Cascata)
  • Clínica da Família José Mauro Ceratti Lopes (Estrada João Antônio da Silveira, 3330, bairro Restinga)

As demais unidades de saúde e farmácias distritais não funcionam nesta Sexta-feira Santa (18) nem na segunda-feira, retomando o atendimento na terça-feira (22).

Também estarão abertos 24h, na sexta-feira e segunda, os prontos atendimentos, os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), os Serviços de Residenciais Terapêuticos e os hospitais do município (HPS e Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas). O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) pode ser acionado pelo telefone 192.

Prontos atendimentos e hospitais que funcionam 24 horas, inclusive nos feriados:

  • PA Cruzeiro do Sul (rua Professor Manoel Lobato, 151, Santa Tereza)
  • PA Bom Jesus (rua Bom Jesus, 410, Bom Jesus)
  • PA Lomba do Pinheiro (estrada João de Oliveira Remião, 5120, parada 12, Lomba do Pinheiro)
  • PA de Saúde Mental IAPI (rua Valentim Vicentini, s/nº )
  • UPA Zona Norte Moacyr Scliar (rua Jerônimo Velmonovitz, esquina com avenida Assis Brasil)
  • Hospital de Pronto Socorro (Largo Teodoro Herzl, s/nº, bairro Bom Fim)
  • Hospital Materno Infantil Presidente Vargas – emergências obstétrica e pediátrica (avenida Independência, 661)

O que diz a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre

“As unidades de saúde de Porto Alegre não funcionam em feriados e finais de semana, conforme premissa do seu funcionamento regular. No entanto, em razão do atual cenário da dengue, quatro unidades estarão abertas excepcionalmente nesta segunda-feira, 21, feriado, das 9h às 14h, para atendimento exclusivo de casos sintomáticos de dengue: Morro Santana, Primeiro de Maio, José Mauro Ceratti Lopes e Passo das Pedras I.

Casos leves de dengue também podem ser atendidos nos demais prontos atendimentos e nas tendas específicas instaladas ao lado da UPA Moacyr Scliar, que contam com reforço de 30 leitos para observação.

Em situações de urgência e emergência, a orientação é procurar diretamente hospitais ou prontos atendimentos. Nesses serviços, o atendimento é realizado conforme o Protocolo de Manchester, que classifica os pacientes por gravidade, e não por ordem de chegada. Ou seja, casos mais graves são atendidos primeiro, garantindo a prioridade para quem mais precisa.”