Natura vai à COP-30 com discurso pró-regeneração da Amazônia e de valorização das comunidades
Data: 20/04/2025 03:07:51
Fonte: estadao.com.br

Angela PinhatiDiretora de Sustentabilidade da Natura
Com uma história conectada à Amazônia, a Natura decidiu participar da COP-30, em Belém. Foi no início dos anos 2000 que a empresa estabeleceu seu primeiro relacionamento com uma comunidade agroextrativista da região. A empresa criou, desde então, uma rede com mais de 10 mil famílias, distribuídas em 44 comunidades fornecedoras de bioativos. Ela usa, ao todo, 44 bioingredientes amazônicos.
“A Natura não poderia deixar de participar da COP-30 e contribuir para dar visibilidade à Amazônia e suas múltiplas oportunidades”, afirma Angela Pinhati, diretora de Sustentabilidade da empresa.
Há dois anos, a Natura incorporou o conceito de regeneração à sua estratégia, o que seria um passo além da sustentabilidade. “Diante da urgência climática e do esgotamento de recursos naturais, sustentar já não basta. É preciso restaurar ecossistemas, reduzir desigualdades e promover o bem-estar coletivo de forma integrada”, diz Angela.
“O que buscamos é mostrar, por meio de resultados concretos, que é possível fazer negócios que regeneram e que a Amazônia tem tudo para ser protagonista de uma nova economia, mais justa, inclusiva e resiliente.”
A lição de casa da empresa inclui metas como usar somente embalagens reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2030, garantir 95% de biodegradabilidade dos cosméticos e ampliar para 3 milhões de hectares a área conservada e regenerada na Amazônia até o final da década – a Natura diz que seu modelo de negócio ajudou a conservar, até hoje, cerca de 2,2 milhões de hectares de floresta em pé.

Angela Pinhati foi nomeada diretora de sustentabilidade da Natura na América Latina Foto: Divulgação/Natura
Além disso, a empresa anunciou no ano passado um plano de transição climática que tem o compromisso de zerar as emissões líquidas de carbono até 2030, o que inclui uma aliança com seus parceiros. “Neutralizar as emissões já não é suficiente. É preciso parar de emitir e, claro, investir em pesquisa e tecnologia para que isso seja possível”, diz a diretora.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Porque a Natura decidiu participar da COP-30?
A COP-30 é um momento histórico para o Brasil ao dar visibilidade global à agenda climática e uma oportunidade única para avançarmos na busca por soluções e políticas que promovam ações regenerativas, como a economia circular, a descarbonização dos negócios, a rastreabilidade de matérias-primas, justiça climática e a participação ativa das comunidades, especialmente aquelas mais impactadas pelas mudanças do clima. Esta é uma agenda que faz parte da nossa razão de ser.
Este é o ano em que também celebramos dez anos do Acordo de Paris, o que torna as reflexões sobre os avanços na agenda climática ainda mais urgentes, especialmente diante das crises recentes e de seus impactos sobre clima, pessoas e natureza.
Nosso objetivo na COP-30 é contribuir com a amplificação dessa pauta como meio de fortalecer a agenda socioambiental brasileira e destacar a Amazônia como polo gerador de prosperidade para o Brasil e para o mundo.
O que a empresa pretende apresentar na cúpula?
Queremos mostrar ao mundo, por meio de histórias de sucesso de nossas comunidades e parceiros na região, que é possível aliar conservação ambiental, lucratividade, valorização do conhecimento tradicional e muita inovação em conjunto com as famílias. É possível fazer negócios que façam bem para as pessoas e o planeta.
Temos raízes profundas na região amazônica e uma trajetória pautada pela valorização das comunidades locais e da floresta em pé. Vamos reforçar que a bioeconomia é um caminho viável, necessário e urgente para a regeneração do planeta.
Nosso plano de industrialização é um exemplo prático. Temos 19 agroindústrias na Amazônia, que aumentam o valor agregado dos produtos da floresta e geram competitividade, lucratividade e bem-estar social para as cooperativas parceiras, além de inovações e parcerias em nosso complexo sustentável em Benevides (PA), o Ecoparque, que faz parte desse ciclo virtuoso da bioeconomia.
Nossos produtos são a materialização da nossa atuação e carregam as histórias e os saberes das comunidades agroextrativistas tradicionais de quem somos parceiros. E destacaremos nossas metas para 2030, como o plano de descarbonização, práticas de economia circular e agricultura regenerativa.
A COP-30 tem o potencial de atrair diferentes setores produtivos e será uma oportunidade poderosa para convocar mais atores a se engajar em iniciativas como as que desenvolvemos, fortalecendo as soluções baseadas na natureza como resposta aos desafios globais.
O setor privado pode e deve reforçar a necessidade de investimentos em tecnologias verdes e práticas sustentáveis, o que pode abrir novos mercados e incentivar a inovação, à medida que as companhias buscam soluções para reduzir suas emissões e minimizar seu impacto ambiental ao mesmo tempo em que prosperam economicamente.
Nossa intenção é promover diálogo e estabelecer parcerias com empresas, o terceiro setor e o poder público para deixar um legado pós-COP-30, especialmente para o território, além de garantir o envolvimento das comunidades, dos jovens que estão na linha de frente na busca por soluções para a crise climática e da nossa rede de consultoras.
Quais são as expectativas da Natura em relação aos debates e às negociações entre os países que acontecerão na COP?
Nossas expectativas são altas. Acreditamos que será um momento histórico, especialmente por acontecer no Brasil, para que o País reforce um papel de liderança na agenda climática global, com foco na conservação e regeneração da Amazônia e dos demais biomas.
Esperamos que os diálogos avancem de forma concreta na direção de uma bioeconomia inclusiva e regenerativa. Para isso, é indispensável enfrentar desafios, como o combate ao desmatamento ilegal e a exploração predatória de recursos naturais, que ainda comprometem o potencial competitivo e sustentável da região amazônica.
Também é fundamental que a COP promova debates profundos sobre justiça social e equidade no acesso aos recursos naturais, reconhecendo o papel essencial das comunidades tradicionais na conservação da biodiversidade e no fortalecimento de modelos produtivos sustentáveis. Em um cenário marcado por eventos climáticos extremos, é urgente que a adaptação e a resiliência deixem de ser temas periféricos e passem a ocupar o centro das políticas públicas e das iniciativas privadas.