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Mortes maternas por hipertensão no Brasil

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Data: 21/04/2025 12:49:58

Fonte: abcdoabc.com.br

Um estudo realizado por pesquisadores da unicamp.br/” data-type=”link” data-id=”https://unicamp.br/” target=”_blank” rel=”noopener”>Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) destaca a continuidade das mortes maternas em decorrência de hipertensão no Brasil, enfatizando que a maioria desses casos é totalmente evitável. A pesquisa, que abrange dados de 2012 a 2023, evidencia uma forte correlação entre a mortalidade materna e as desigualdades sociais existentes no país.

Durante o período analisado, observou-se que a taxa de óbitos maternos entre mulheres indígenas foi mais do que o dobro da registrada para mulheres brancas. No caso das mulheres negras, a situação é ainda mais alarmante, com uma taxa quase três vezes superior à das brancas.

Os pesquisadores ressaltam que não há predisposição biológica que justifique essa maior mortalidade por condições hipertensivas na gravidez entre esses grupos. Em vez disso, fatores socioeconômicos desempenham um papel crucial, uma vez que essas mulheres frequentemente vivem em situações de pobreza, têm menor acesso à educação e enfrentam barreiras significativas para obter cuidados de saúde adequados.

O estudo também aponta que o viés racial no sistema de saúde pode resultar em um atendimento desigual e preconceituoso. Mulheres negras, pardas e indígenas podem ter experiências negativas com os profissionais de saúde, o que contribui para a desconfiança nos serviços de saúde e, consequentemente, leva a desfechos adversos durante a maternidade.

Entre 2012 e 2023, cerca de 21 mil mulheres faleceram durante a gestação, parto ou puerpério. Dentre essas mortes, aproximadamente 18% — totalizando 3.721 — foram atribuídas a complicações relacionadas à hipertensão. A taxa global de mortalidade materna no Brasil foi estimada em 61,8 mortes para cada 100 mil nascimentos, um índice que, embora esteja abaixo do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), permanece bem acima dos números observados em países desenvolvidos, onde essa taxa varia entre 2 a 5 mortes por 100 mil nascimentos.

A análise também revelou que, ao considerar especificamente as mortes causadas pela hipertensão, a taxa média se manteve estável em 11,01 por 100 mil nascimentos ao longo dos anos. Contudo, em 2023, esse número apresentou uma leve queda para 8,73. Apesar da redução, os especialistas tratam essa variação com cautela devido à sua natureza estatisticamente atípica. Em contrapartida, o ano de 2022 registrou o maior índice proporcional com 11,94 mortes por 100 mil nascimentos. Os pesquisadores atribuem esse pico aos impactos indiretos da pandemia de COVID-19, que desorganizou os serviços de saúde em 2020 e 2021 e afetou a assistência obstétrica subsequentemente.

De acordo com José Paulo Guida, professor do Departamento de Tocoginecologia da Unicamp e coautor do estudo, é essencial enfatizar a importância do pré-natal qualificado para prevenir mortes maternas: “Uma mulher não morre repentinamente; há vários momentos em que ela poderia ter recebido tratamento para evitar isso. Assim que uma mulher descobre sua gravidez, deve iniciar imediatamente o pré-natal. Entretanto, essa realidade pode ser diferente para aquelas que vivem em áreas remotas dos centros urbanos”, explica Guida. No Brasil, a média para início do pré-natal é na 16ª semana de gestação.

Estratégias de Prevenção

A prevenção da hipertensão na gravidez se torna ainda mais relevante considerando que existem dois medicamentos acessíveis — carbonato de cálcio e ácido acetilsalicílico (AAS) — capazes de reduzir em até 40% o risco de complicações quando administrados antes da 16ª semana de gestação. Recentemente, o Ministério da Saúde recomendou a prescrição do carbonato de cálcio para todas as gestantes e indicou o uso do AAS como medida complementar para aquelas em maior risco.

Entretanto, Guida enfatiza a necessidade de garantir que esses medicamentos estejam disponíveis nas unidades de saúde e que os profissionais sejam devidamente capacitados para identificar fatores de risco e realizar as prescrições corretas. Ele acrescenta: “Na primeira consulta é crucial que o profissional obtenha informações sobre os antecedentes médicos da paciente: como foram suas gestações anteriores? Ela é muito jovem ou tem uma idade avançada? Possui obesidade ou outras condições? Todos esses são fatores que aumentam o risco de desenvolver hipertensão durante a gravidez.”

Além disso, as gestantes devem ser orientadas sobre quando procurar atendimento médico imediatamente se apresentarem sintomas suspeitos. Segundo Guida: “A principal intervenção para prevenir morte nesses casos é o sulfato de magnésio. Ele reduz significativamente as chances de convulsões relacionadas à pressão alta; convulsões podem levar a um risco quase 50% de morte.”

O estudo ainda conclui que as taxas de mortalidade por hipertensão aumentam consideravelmente após os 40 anos, atingindo uma média aproximada de 31 mortes por cada cem mil nascimentos. Mulheres nesta faixa etária estão mais propensas a já apresentarem condições pré-existentes como hipertensão ou diabetes ao engravidar, elevando assim os riscos envolvidos.

Adicionalmente, sugere-se que as mortes atribuídas à hipertensão possam ser subestimadas; durante o período analisado, cerca de 2.400 mulheres faleceram devido a hemorragias — um desfecho que pode estar associado à hipertensão devido ao seu impacto na coagulação sanguínea.



  • Data: 21/04/2025 12:04
  • Alterado:21/04/2025 12:04
  • Autor: Redação
  • Fonte: Unicamp




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