| Trégua entre EUA e China melhora cenário político e econômico para Brasil
Data: 14/05/2025 22:05:21
Fonte: estadao.com.br
A trégua anunciada entre Estados Unidos e China no final de semana passado, com a suspensão parcial de tarifas por 90 dias, melhora de forma relevante o ambiente externo para o Brasil. A medida diminui o risco de uma ruptura mais grave no comércio internacional e, portanto, reduz uma das principais ameaças à política econômica do governo Lula.
A política econômica do governo Trump, marcada por forte protecionismo, restrições à imigração, demissões em órgãos públicos e decisões erráticas, vinha elevando a tensão no sistema internacional. O processo decisório em Washington continua desorganizado, com uma equipe dividida entre agendas contraditórias e um presidente que concentra poder e opera por impulsos. Ainda assim, a percepção de que as tarifas bilaterais haviam se tornado economicamente insustentáveis — com impacto sobre consumidores e empresas americanas — forçou o governo a recuar mais cedo e com muito menos concessões do que ele pretendia.

O presidente dos EUA Donald Trump renegociou a taxação a produtos da China Foto: Brendan Smialowski / AFP
A redução temporária das tarifas não resolve o conflito, mas impede, por ora, a escalada para um patamar proibitivo ao comércio. Isso reduz o risco de desabastecimento em setores estratégicos e dá tempo para buscar uma solução mais duradoura.
Internamente, Trump também parece ter entendido os riscos: sua popularidade começou a se desgastar, gerando desconforto em seu partido. Nas últimas semanas, ele passou a defender propostas mais populares, como o controle do preço de medicamentos e até a possibilidade de aumento de impostos sobre os mais ricos — temas tradicionalmente associados à oposição.
Para o Brasil, o recuo americano melhora o cenário de curto prazo. A trégua reduz a probabilidade de um choque nos mercados globais que levaria a fuga de capitais de países emergentes, pressionando o câmbio e a inflação. Com o dólar em queda, abre-se espaço para cortes de juros antes das eleições de 2026, o que pode beneficiar Lula. Isso ajuda o governo a sustentar sua estratégia econômica sem mudanças bruscas e, se mantido, reforça suas chances de reeleição.
Mas o alívio é tênue. O risco de recessão nos Estados Unidos ainda existe, ainda que mais controlado. E o cenário segue instável: qualquer reviravolta em Washington — ainda sujeita a decisões intempestivas — pode reacender a tensão nos mercados.
Além disso, o governo Lula também enfrenta os seus próprios fantasmas. Um exemplo é o escândalo do INSS, com investigações sobre fraudes e roubo de aposentadorias. Se o governo conseguir se desvincular politicamente do caso, a crise tende a ser contida. Mas, enquanto o dinheiro não for devolvido e a narrativa de que tudo começou em gestões anteriores não se consolidar, o risco político permanece.
Em resumo, a trégua entre EUA e China reduz os riscos para o governo Lula e melhora o cenário para a política econômica em 2025. Mas o quadro ainda exige cautela do governo, tanto pela instabilidade externa quanto pelos obstáculos internos que continuam a ameaçar a recuperação da popularidade do governo.