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Ministra visita comunidades afro-brasileiras em município baiano que é referência para preservação da memória negra

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Data: 14/05/2025 21:32:55

Fonte: minutomt.com.br


Com a missão de fortalecer e valorizar a memória e a verdade em torno da escravidão e do comércio de africanos escravizados para o Brasil, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, visitou, nesta quarta-feira (14), a Irmandade da Boa Morte, confraria religiosa afro-católica secular constituída apenas por mulheres, em Cachoeira (BA), no Recôncavo Baiano.


Na cidade, a titular do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) afirmou que valorizar a memória do período da escravidão negra é tarefa fundamental para que nunca mais se repita o processo de opressão e de morte, como foram os mais de 300 anos de escravização no Brasil. “No ministério, uma das áreas importantes que a gente está trabalhando é a memorialização e a retomada da história e verdade sobre a escravização negra no Brasil. Cachoeira é uma cidade muito importante. Tem uma memória da luta política e da organização de mulheres em torno da pauta da libertação”, destacou.


Acompanhada pela prefeita de Cachoeira, Eliana Gonzaga, a ministra percorreu as ladeiras da cidade, visitou a prefeitura e locais simbólicos da resistência negra no país. No município, Macaé Evaristo também participou de um encontro com o coletivo Mulheres de Axé do Brasil, formado por mulheres negras com o objetivo de promover o empoderamento feminino, preservar a cultura afro-brasileira e lutar por justiça social. “É uma honra muito grande tê-la aqui conosco, na nossa cidade majoritariamente negra, que tem Macaé Evaristo como referência nessa pasta de grande importância, uma pasta de reparação também, que é a garantia dos direitos da nossa população”, destacou a prefeita.


No encontro com o coletivo, a presidenta da Irmandade da Boa Morte, Joselita Sampaio, cumprimentou a ministra e demais presentes com um cântico em saudação à Oxum, uma das principais orixás nas religiões de matriz africana. “A gente é do axé e tem pessoas que não são, mas a gente aceita e respeita. Então, nós fazemos isso aqui, nessa casa que pertence a Mãe Oxum, para cada dia mais reativar a nossa religião, o nosso conhecimento, que não foi a gente que fez, porque sabemos que a África joga junto conosco”, afirmou. Para Joselita, as religiões de matriz africana são uma raiz profunda da comunidade que servem de proteção para o coletivo.


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A coordenadora da CGMET afirma que a Irmandade da Boa Morte é um dos mais eloquentes testemunhos da cultura do povo negro no Brasil(Foto: Raul Lansky/MDHC)

Memória negra


A titular do MDHC ressaltou que Cachoeira é uma cidade que está na centralidade da história do Brasil, especialmente a partir das mãos de mulheres negras que militam no combate ao racismo ou preconceito. De acordo com Macaé Evaristo, a população do município baiano foi precursora na defesa de direitos fundamentais, principalmente da classe trabalhadora. “Eu costumo sempre me referir à Irmandade dizendo que foi o começo da Previdência Social no Brasil. E as pessoas deveriam agradecer às mulheres negras, porque foram elas que começaram, lá atrás, a ter as primeiras casas de assistência. Isso inspirou o princípio da previdência”, contou.


A Coordenação Geral de Memória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Pessoas Escravizadas (CGMET) do MDHC, através do Projeto de Sinalização e Reconhecimento de Lugares de Memória dos Africanos Escravizados no Brasil, pretende fazer a fixação de placas em diversos locais do município baiano, entre eles: as Ruínas da Senzala do Engenho Vitória; a Roça do Ventura – Terreiro Zoogodô Bogum Malê Seja Hundé; e a Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Cachoeira. A iniciativa que abrange todo o Brasil é uma parceria entre o MDHC, o Ministério da Educação (MEC), o Ministério da Igualdade Racial (MIR) e o Ministério da Cultura (MinC).


Segundo a coordenadora da CGMET, Moema Carvalho Lima, a Irmandade da Boa Morte é um dos mais eloquentes testemunhos da riqueza, da fé e da sabedoria do povo negro no Brasil. “Em suas raízes, encontramos o sincretismo e a fusão entre o catolicismo e o candomblé como mais um estratégia de sobrevivência, de autonomia, preservação cultural e construção de identidade”. Moema afirma que, por ser formada exclusivamente por mulheres negras, a Irmandade ensina que a história da sociedade brasileira não pode ser compreendida sem a presença viva e transformadora das epistemologias negras. “É em cidades como Cachoeira, no Recôncavo Baiano, que emerge o que chamamos de cultura brasileira, a história que a CGMET quer contar”, frisou.


Ainda de acordo com a coordenadora da CGMET, a celebração da Boa Morte é mais do que uma festa. “É uma pedagogia ancestral, uma lição de memória e de identidade, e é celebrando a Boa Morte que honramos a vida de cada pessoa negra, de cada africano e africana escravizada, e que, através da solidariedade e da irmandade, nos trouxe até aqui. A dignidade coletiva navegou por mais de 200 anos de existência e tardamos a não contar sua história com toda glória que merece”, lembrou.


Saiba mais sobre os lugares de memória negra no Brasil


Acompanhada pela prefeita de Cachoeira, a ministra percorreu as ladeiras da cidade (Foto: Raul Lansky/<span style=MDHC)” height=”300″ width=”400″>
Acompanhada pela prefeita de Cachoeira, a ministra percorreu as ladeiras da cidade (Foto: Raul Lansky/MDHC)

Ruínas da Senzala do Engenho Vitória


Em 1812, período de plena expansão da economia açucareira, iniciou-se a construção do engenho por Pedro Bandeira, abastado negociante e senhor de engenhos da região e um dos introdutores da navegação a vapor na Bahia. No grande engenho, movido a água, trabalhavam centenas de escravos, muitos deles africanos, que tinham que se dividir em duas pequenas senzalas. Em 1827, o engenho foi palco de uma revolta de escravos, morrendo o feitor e seu irmão. A casa grande e a fábrica do engenho estão em ruínas. O local das antigas senzalas forma hoje uma pequena vila.


Roça do Ventura – Terreiro Zoogodô Bogum Malê Seja Hundé


Os africanos Tio Xareme e Ludovina Pessoa, em meados do século XIX, nas imediações da cidade de Cachoeira, no antigo caminho do Engenho do Rosário, fundaram a Roça de Cima, terreiro de nação Jeje. No final desse século, Ludovina Pessoa, junto com sua filha de santo, Maria Luiza Sacramento, fundou na Roça do Ventura, vizinha da Roça de Cima, o Terreiro do Zoogodô Bogum Malê Seja Hundé, ainda em funcionamento.


Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Cachoeira


A Irmandade dos Homens Pretos do Rosário de Cachoeira (BA) foi fundada no início do século XVIII e, entre seus membros, havia africanos nagôs, conforme consta em sua documentação. Em 1796, os integrantes dessa irmandade solicitaram à rainha D. Maria I (1734-1816) licença para construírem a Igreja do Rosário dos Homens Pretos. Em anexo à Igreja, conhecida como Rosarinho, existe até os dias atuais o cemitério dos pretos, fundado pelos irmãos do Rosário e assim denominado pela comunidade. A igreja está localizada no Largo do Rosarinho, no bairro do Rosarinho, em Cachoeira.


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Texto: R.M.


Edição: L.M.


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Fonte: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania