Hoje, faz exatamente um mês que perdi meu pai. E, com ele, um tempo, uma memória, as histórias que ele adorava contar, de quando a praia de Copacabana ainda não tinha sido aterrada, de quando ele começou a trabalhar na loja de ferramentas do pai, um judeu turco que só dizia palavrões em ladino, da clandestinidade com a minha mãe, do exílio em Lisboa. Muitas vezes, eu e minha irmã lhe dizíamos: “Pai, já ouvimos essa história”; ao que ele respondia: “Não faz mal. Ouçam de novo”. E continuava a falar.