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Economistas falam em ‘matemágica fiscal’ do governo em revisão das contas públicas

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Data: 21/09/2024 18:25:07

Fonte: valorinveste.globo.com

A revisão bimestral do orçamento para 2024 apresentada ontem pelo governo surpreendeu negativamente economistas e deve pressionar os ativos domésticos no início da próxima semana.

No geral, a avaliação é que houve avanços na estimação de algumas receitas e certas despesas e o cumprimento da meta de resultado primário deste ano ainda está “ao alcance da mão”, mas o governo perdeu a oportunidade de realizar um bloqueio maior de despesas que tornasse a projeção de gastos mais crível, o que deixou uma impressão de piora entre analistas e deve exigir um bloqueio mais forte no último relatório do ano, previsto para 22 de novembro.

“Tem alguns pontos mais construtivos, mas, no geral, liquidamente, a surpresa foi um pouco pior”, afirma a economista Andrea Damico, fundador e CEO da Buysidebrazil.

A contenção orçamentária total (bloqueio e contingenciamento) caiu de R$ 15 bilhões anunciados em julho para R$ 13,3 bilhões agora. O bloqueio é realizado quando despesas obrigatórias sobem mais do que o estimado pelo governo, e ele precisa cortar despesas discricionárias (não obrigatórias) para compensar. Já o contingenciamento de despesas ocorre quando há frustração nas receitas previstas para financiar gastos.

A expectativa dos economistas era de um bloqueio adicional em torno de R$ 5 bilhões, mas o governo anunciou R$ 2,1 bilhões. Para o contingenciamento, embora economistas não esperassem restrição adicional, já que as receitas performam bem, também não previam que os R$ 3,8 bilhões de julho fossem convertidos em zero.

Como o bloqueio adicional foi inferior à reversão do contingenciamento, o “esforço fiscal” total para 2024 foi afrouxado em R$ 1,7 bilhão, enquanto economistas e agentes do mercado financeiro esperavam um aumento entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões. O Santander, por exemplo, esperava um bloqueio de R$ 5 bilhões que, somado à contenção de R$ 15 bilhões de julho, levaria a R$ 20 bilhões no total.

“O bloqueio foi abaixo do esperado (R$ 5 bilhões), sendo que essa perspectiva já era considerando que o governo não faria o necessário (R$ 10 bilhões)”, afirma Rai Chicoli, economista-chefe da Citrino Gestão de Recursos.

Sobre o contingenciamento, Chicoli diz acreditar que o governo “deveria ter sido mais conservador” e, pelo menos, deixado o valor previsto.

“Reverter o contingenciamento em um momento em que as despesas ainda não estão devidamente ajustadas e a economia se mostra forte, enquanto o ciclo de ajuste de juros está apenas começando, revela uma baixa sensibilidade do planejador diante de uma economia desequilibrada. O fiscal continua expansionista, enquanto a política monetária tenta contrair”, afirma Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital.

Nos últimos dias, ela observa, os mercados locais já reagiram negativamente, inclusive antecipando uma contenção orçamentária menor. Ontem, a perspectiva de uma Selic mais elevada à frente e as preocupações do mercado em torno do fiscal levaram a um amplo aumento dos prêmios de risco, refletidos ao longo de toda a curva de juros, conforme mostrou reportagem do Valor Pro, o serviço em tempo real do Valor.

“A reação na segunda-feira deverá ser ainda mais negativa”, afirma Nogueira. “O que mais vai pesar é o bloqueio menor que o esperado e a liberação do contingenciamento. Acho que o mercado vai continuar estressando”, diz Chicoli.

Leia a reportagem completa no site do Valor Econômico.

 — Foto: Getty Images
— Foto: Getty Images