Prêmio Empreendedor Social consagra figuras históricas e jovens transformadores
Data: 13/11/2024 16:19:06
Fonte: www1.folha.uol.com.br
A cerimônia de 20 anos do Prêmio Empreendedor Social, na noite desta terça-feira (12) em São Paulo, consagrou brasileiros que dedicam suas vidas à transformação do país ao mesmo tempo em que apontou caminhos de futuro ao reconhecer jovens lideranças.
Caso de Valmir Ortega, 56, que há décadas e em diferentes setores age pela regeneração de florestas e foi vencedor da categoria Inovadores Sociais do Ano com a startup Belterra. Ou de Luiz César da Silva, 22, ativista pelos direitos de crianças e jovens alagoanos, um dos destaques na categoria Jovens Transformadores com sua Visibilidade da Juventude Rural.
A homenagem no Theatro Municipal de São Paulo começou sob regência do maestro João Carlos Martins, no palco comandado pelos mestres de cerimônia Mônica Martelli e Sergio Marone. A plateia de mais de 600 pessoas ergueu-se no embalo do clássico ‘Trem das Onze’, de Adoniran Barbosa.
A seguir, o campo da inovação social no Brasil e no mundo foi debatido em um talk show ao vivo no palco com a participação de Hilde Schwab e François Bonnici, representantes da Fundação Schwab, parceira da Folha na realização do prêmio, e Sérgio Dávila, diretor de Redação do jornal.
“Ao conectar empreendedores sociais com líderes globais influentes por meio de eventos como o Fórum Econômico Mundial, a Fundação elevou o perfil do empreendedorismo social”, afirmou Hilde Schwab, sobre uma comunidade de 500 premiados de 190 países, que juntos impactaram diretamente a vida de 931 milhões de pessoas.
“Cada um dos empreendedores sociais aqui presentes é prova de que temos uma maneira diferente de conduzir o planeta”, afirmou Bonnici, acrescentando que estudo recente da Fundação Schwab, com dados de 80 países, mostrou há 10 milhões de negócios sociais no mundo, o que representa 3% das empresas globais.
“Esses negócios criam 200 milhões de empregos e geram US$ 2 trilhões em receitas anuais, isso é mais que a indústria da moda”, completou ele.
Dávila ressaltou a importância do jornal como um dos entes desse ecossistema de impacto e trouxe dados de pesquisa Datafolha, feita neste ano com 101 organizações da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.
“Ao longo de 20 anos, esses finalistas e vencedores do prêmio já beneficiaram pelo menos 330 milhões de pessoas, número que corresponde a 1,5 vez a população atual do país.”
A volta ao passado teve seu ápice na cerimônia com o tributo de Luciano Huck, finalista da 3ª edição do Empreendedor Social, em 2007, como fundador do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias.
“O Criar segue sendo ferramenta poderosa para que periferias tenham instrumental para contar sua história. Quando estive nesse mesmo palco, em 2007, foi a certeza de que estávamos no caminho certo, e lá se vão quase 20 anos. Obrigado por valorizarem o terceiro setor”, disse o apresentador.
Ele reverenciou a trajetória de finalistas e premiados com vídeo produzido por Jonatas Marques, formado pelo instituto, e que subiu ao palco para tirar uma foto de todos os empreendedores sociais.
Os finalistas da edição 2024 foram apresentados ao público por meio de minidocumentários produzidos pela equipe da Folha Social + e Renato Stockler, profissional responsável pelo conteúdo audiovisual da premiação.
Os vídeos retrataram os paulistas Luis Junqueira e Thiago Rached, mentes brilhantes por trás da Letrus, edutech que usa inteligência artificial para apoiar estudantes da rede pública na busca por boas notas na redação do Enem.
E também o trabalho do recifense Jorge Júnior, fundador da Trampay, fintech que oferece crédito e dignidade a entregadores. Trio que concorreu ao troféu na categoria Inovadores Sociais do Ano com o curitibano Valmir Ortega.
Já na categoria Soluções que Inspiram, a recifense Simony César venceu com a Super Nina, startup que combate a importunação sexual na mobilidade urbana, com atuação em Fortaleza (CE).
“Quem sofre importunação sexual a cada quatro segundos são mulheres negras, periféricas, que passam na creche, no mercado, que fazem o maior deslocamento pela cidade. Políticas públicas fazem a diferença, e me orgulho da Super Nina ter se tornado uma”, disse ela ao receber o troféu.
Simony concorreu com o carioca Eduardo Ávila e a Revolusolar, ONG que lidera na busca por reduzir a pobreza energética e levar energia limpa a morros como a Babilônia, no Rio de Janeiro.
E com Maria Vitória Ramos, paulistana que usa a Lei de Acesso à Informação para dar mais transparência aos gastos públicos —e ensina esse processo como maneira de empoderar cidadãos com a ONG Fiquem Sabendo.
“Que esse espaço sirva como mensagem para nossos governantes de que estamos prontos e atentos para cobrar políticas públicas justas, transparentes e baseadas em evidências”, disse Maria Vitória ao levar o prêmio de engajamento da plataforma MobilizAção junto com Simony César.
Ambas lideraram as doações pela plataforma que mobilizou quase R$ 200 mil para as causas finalistas, com matchfunding da Ambev. Em volume de recursos, a Trampay foi vencedora ao levantar mais de R$ 60 mil para criar um ponto de apoio para motoboys em São Paulo.
O evento começou a mirar o futuro com a ativista e colunista da Folha Txai Suruí, filha do cacique Valmir Suruí e da indigenista Neidinha Suruí, finalistas do Empreendedor Social em 2012.
Ela fez um discurso potente sob imagens de guardiões da floresta como Chico Mendes, Dorothy Stang e Dom Phillips e Bruno Pereira.
“Faço parte de uma nova geração de líderes indígenas que estão na linha de frente da luta pela preservação da Amazônia, por justiça climática e pela valorização da terra, da cultura e dos saberes do meu povo Pater Suruí e de todos os povos indígenas que são os guardiões da floresta.”
A artista Midria, com sua performance de slam, abriu as homenagens aos Jovens Transformadores, nova categoria do concurso em parceria com Ashoka e Instituto Coca-Cola Brasil.
“Nesses 25 anos do Instituto Coca-Cola, nada poderia fazer mais sentido do que celebrar e reconhecer quem transforma. Impactar a comunidade a partir do olhar dos jovens faz toda a diferença”, disse Daniela Redondo, diretora-executiva do instituto.
A mineira Rhayani Dias, 19, que promove educação política, e a baiana Mariana Nunes, 21, que criou uma rede de apoio à saúde mental foram reconhecidas junto ao alagoano Luiz César.
E a paulista Thais Rico, 23, que abriu escola de programação na quebrada, a pernambucana Luana Maria, 24, que promove igualdade de gênero por meio da tecnologia, e o cearense Rutenio Florencio, 25, que leva inovação a uma comunidade em Fortaleza (CE), foram homenageados por empoderar economicamente outros jovens.
“O que vocês estão vendo aqui hoje é um cenário de juventudes potentes, e é essa imaginação que queremos ativar nas pessoas”, afirmou Andrea Margit, líder de Novos Paradigmas na Ashoka Brasil.
Perto das 23h, quando a chuva se deitava sobre a cidade, Maria Gadú com seu pocket show intimista encerrou a cerimônia elevando a relevância de iniciativas como as que foram reconhecidas na 20ª edição do Empreendedor Social.
“Ninguém dá voz a ninguém, todo mundo tem voz. A base é a voz”, disse Gadú.
O Prêmio Empreendedor Social tem patrocínio de Gerdau, Ambev, Coca-Cola, Instituto Coca-Cola, Sesi, Instituto Liberta e SOS Mata Atlântica. Conta também com apoio de Unicef, Theatro Municipal, #Sustenidos e Cidade de São Paulo, e parceria estratégica de Ashoka, ESPM, Fundação Dom Cabral, MOL Impacto, Pacto Global, Prosas, SBSA Advogados e UOL. A premiação conta ainda com 15 parceiros institucionais e com outros 6 de divulgação.