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Ex-policial acusado de matar lulista quebra o silêncio: “Sempre fui cristão”

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Data: 11/02/2025 10:08:43

Fonte: meionews.com

Mais de dois anos e meio após a morte do guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, o ex-policial penal federal Jorge Guaranho enfrenta o julgamento pelo crime no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), em Curitiba. Acusado de homicídio duplamente qualificado, Guaranho concedeu entrevista à Gazeta do Povo e classificou o ocorrido como uma “fatalidade infeliz”.

A versão da acusação

De acordo com a denúncia do Ministério Público, Guaranho chegou ao local onde acontecia a festa de aniversário de Arruda e iniciou uma discussão motivada por divergências político-partidárias. O evento, realizado na Associação Recreativa Esportiva Segurança Física de Itaipu (Aresf), tinha como tema o Partido dos Trabalhadores (PT). O promotor Tiago Lisboa Mendonça explicou que a tipificação da motivação do crime foi alterada de motivo torpe para motivo fútil.

A motivação torpe prevê algum tipo de vantagem financeira, paga ou recompensa. Nosso entendimento é que o crime repugnante tem que ter, de alguma forma, essa vantagem. Já o motivo fútil é aquele flagrantemente desproporcional. A doutrina trata essa motivação como insignificante, no sentido de ser banal. Nós entendemos que, em razão do antagonismo em relação à preferência político-partidária entre as partes, o crime foi cometido por motivo fútil.

A defesa de Guaranho

Na entrevista concedida ao jornal, Guaranho afirmou que nunca teve a intenção de matar Arruda e classificou o episódio como uma discussão imatura. Ele relatou as sequelas dos disparos que sofreu durante o confronto e criticou a forma como seu caso foi tratado pelas autoridades.

“Eu nunca quis atirar, tem que ter muita má-fé para dizer que eu quis sair do carro atirando contra o Marcelo. O que essas pessoas têm para acusar outra de tirar uma vida, que é sagrada? Eu sempre fui cristão, e como as pessoas podem me acusar de tirar uma vida por algo tão banal? Isso é uma covardia.”

A reconstrução dos fatos

Guaranho alegou que passava pela rua da associação no momento em que viu a festa e decidiu parar para observar. Segundo ele, a música que tocava em seu carro teria incomodado Arruda, que se aproximou e começou a discutir. A troca de palavras escalou, levando a um momento de agressão física e ao disparo de armas de fogo.

Começou uma infantilidade da minha parte e da parte dele. Ele falou que o Bolsonaro tinha que estar na cadeia, eu retruquei falando mais do Bolsonaro. Disseram que xinguei de volta com vários palavrões, mas não. A própria testemunha que estava mais próxima confirmou que eu só falei de Bolsonaro. Nesse momento o Marcelo, não sei por que, colocou a mão no canteiro, pegou terra e pedras e jogou no carro.

O embate final

Após o primeiro confronto, Guaranho foi para casa e retornou ao local pouco tempo depois. Segundo ele, a decisão de voltar foi motivada pela agressão sofrida e pelo desejo de cobrar uma explicação de Arruda. No entanto, ao chegar novamente à Aresf, ele afirma ter encontrado Arruda armado e apontando para ele. A partir desse momento, os disparos foram efetuados.

Repercussões e críticas à investigação

A defesa de Guaranho critica a condução do processo, especialmente a investigação sobre a agressão sofrida pelo ex-policial após os disparos. Seu advogado, Samir Matar Assad, afirma que o cliente foi espancado violentamente após ser baleado.

O Jorge foi alvejado e recebeu nove tiros antes desse espancamento pelos convidados da festa, caído, com tiro na cabeça. Esse processo caminhou por vias tortas e hoje está no Juizado Especial como vias de fato. O Ministério Público do Estado do Paraná entendeu que não teria como individualizar as lesões, apesar de o vídeo permitir a identificação de cada um dos agressores.

Condições de saúde e prisão

Guaranho relatou as dificuldades enfrentadas durante o período em que ficou preso no Complexo Médico Penal e depois em Foz do Iguaçu. Ele afirmou ter recebido tratamento precário e conviver com sequelas permanentes decorrentes dos ferimentos.

Eu nunca quis atirar. Meu filho foi machucado. E vai ter gente dizendo que não foi tão ferido assim. Mas, para um pai, é como se ele tivesse tomado um tiro. Eu não posso ser obrigado a ficar com dor o tempo todo, ser torturado com essa dor.

Após decisões judiciais, Guaranho obteve a conversão de sua pena para prisão domiciliar, o que gerou reações controversas. O julgamento segue no TJ-PR, com grande atenção da opinião pública e de setores políticos.