Quem é Gleisi Hoffmann, nova ministra das Relações Institucionais
Data: 28/02/2025 17:08:29
Fonte: valor.globo.com
Ao nomear a presidente nacional do PT e deputada Gleisi Hoffmann (PR) para a Secretaria de Relações Institucionais, como nova ministra da articulação política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concede à aliada uma oportunidade para desfazer a imagem de radical que ela adquiriu junto à classe política. À frente da nova missão, Lula também espera que Gleisi pavimente o terreno para a construção do arco de alianças para sua campanha à reeleição em 2026, tarefa que ela cumpriu em 2022.
A escolha de Gleisi para substituir o atual ministro Alexandre Padilha, remanejado para o Ministério da Saúde, mostra que Lula decidiu manter o seu núcleo no Palácio do Planalto restrito a pessoas de sua máxima confiança. Foi um movimento na direção contrária dos apelos de líderes do Centrão, que cobiçavam um assento no palácio ao argumento de que o centro nervoso da gestão deveria se identificar mais com a frente ampla que elegeu o petista. O preferido do bloco era o atual ministro da Secretaria de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), que chegou a ser sondado para o cargo, mas sinalizou que preferia continuar onde está.
Na nova missão, Gleisi consolida-se como um dos quadros mais próximos do presidente, que no terceiro mandato restringiu o círculo de aliados com acesso a ele. Ela é igualmente próxima da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Ambas se aproximaram em Curitiba, quando Gleisi coordenava a campanha “Lula livre!” entre 2018 e 2019.
Para tomar posse no início de março, Gleisi antecipará a saída da presidência do PT, cargo que exerce desde junho de 2017. Naquele ano, ela despontou como a primeira mulher na direção da legenda, fundada em 1980, e foi alçada ao cargo com apoio de Lula. Até a eleição para o novo presidente, programada para junho, a legenda será comandada por um interino. O favorito para sucedê-la é o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva.
Lula disse a interlocutores acreditar que Gleisi pode surpreender no novo cargo porque já foi testada na interlocução direta com dirigentes partidários e lideranças de outras siglas. Um dos testes principais deu-se no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Entre meados de 2011 e 2014, ela comandou a Casa Civil, sucedendo ao então ministro Antonio Palocci, demitido em meio a acusações de malfeitos.
Naquela ocasião, ela firmou-se como principal interlocutora do governo Dilma com o Congresso e lideranças políticas. Embora a então ministra Ideli Salvatti (PT) respondesse, formalmente, pela Secretaria de Relações Institucionais, políticos e autoridades pediam e preferiam agendas com Gleisi, identificada como a auxiliar a quem Dilma dava ouvidos, e que tinha efetivo poder decisório.
Naqueles tempos, formava com o então ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT), o “casal 20” da Esplanada dos Ministérios. Atualmente, seu companheiro é o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), com quem atuará em parceria na interlocução com os líderes no Congresso.
Como presidente do PT, construiu o arco de alianças que formou a coligação de apoio a Lula na eleição vitoriosa de 2022. Recentemente, liderou na Câmara dos Deputados as negociações do PT para formalizar o apoio à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Casa.
A petista, no entanto, ganhou fama de “radical” junto à classe política, e mesmo na sociedade, pela postura combativa que teve de assumir em missões anteriores. Como senadora, no processo de impeachment de Dilma Rousseff, Gleisi emergiu como uma das vozes mais combativas em defesa da presidente, ao lado do então senador Lindbergh Farias.
Entre 2018 e 2019, já como presidente do PT, Gleisi coordenou a campanha “Lula livre!”, organizando em todo o país atos pela libertação do líder petista, que passou 580 dias preso em Curitiba no âmbito da Lava-Jato. Posteriormente, decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) anularam essa condenação, apontando a suspeição do juiz Sergio Moro, e decidindo que o processo não deveria ter sido conduzido no Paraná.
A própria Gleisi tornou-se alvo da Lava-Jato, ao lado do ex-marido Paulo Bernardo. Ambos foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República, em 2018, acusados de supostamente receberem R$ 5 milhões em caixa dois para a campanha eleitoral. Em novembro de 2023, no entanto, o STF arquivou a denúncia contra ambos por falta de provas.
O perfil de radical ganhou força, ainda, pelo enfrentamento público, em discursos e nas redes sociais, contra a política econômica do próprio governo petista, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Por isso, a leitura de aliados de Haddad é de que a escolha de Gleisi para a articulação política fragiliza o titular da Fazenda, porque ela deve formar uma parceria sólida no Planalto com o chefe da Casa Civil, Rui Costa, que trava embates internos com Haddad. Com o remanejamento de Alexandre Padilha para a Saúde, Haddad perde um aliado incondicional no Planalto.
Aos 59 anos, Gleisi ostenta uma longa trajetória política, iniciada na juventude, quando foi líder estudantil. Ela se filiou ao PT em 1989, e antes de ser presidente nacional da sigla, comandou o diretório estadual do PT no Paraná entre 2008 e 2009. Na esfera federal, ela foi diretora financeira de Itaipu Binacional em 2002. Em 2010, elegeu-se senadora pelo Paraná, e em 2018 foi eleita deputada federal, reelegendo-se em 2022.