Ibovespa cai 1,60%, abaixo de 123 mil, com Trump e Gleisi; na semana, -3,41%
Data: 28/02/2025 18:49:26
Fonte: tnonline.uol.com.br
Com bate-boca transmitido pela TV entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia) sobre o conflito no Leste Europeu, e escolha de Gleisi Hoffmann para a coordenação política no Brasil, o Ibovespa buscou novas profundezas ao longo da tarde, perdendo a linha dos 123 mil pontos no pior momento, em baixa na casa de 1,7%, aos 122.658,78 pontos, no menor nível intradia desde 27 de janeiro. E ao fim, o índice da B3 ainda mostrava perda de 1,60%, aos 122.799,09 pontos, com giro bem reforçado a R$ 36,2 bilhões nesta sexta-feira que precede longo intervalo sem negócios no Brasil, na segunda e na terça, e sessão mais curta na quarta de cinzas, com cenário externo que ganha efervescência.
No início da tarde deste fim de mês, o noticiário já tinha relevo com a confirmação de que Gleisi Hoffmann assumirá a coordenação política do governo, por escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – uma opção que pode ser lida como reforço da inclinação populista na metade final da administração, assim como enfraquecimento adicional do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e possibilidade de interações ainda mais ruidosas com o Congresso, pelo perfil ideológico que se atribui à futura ministra das Relações Institucionais.
“O ideal para uma posição de articulação política entre o Congresso e o Executivo seria alguém com perfil mais ao centro, com nível de diálogo amplo, diferentemente de Gleisi Hoffmann, conhecida por posicionamentos duros e rigorosos como um quadro do PT – o que deixa o mercado mais preocupado, em momento em que ainda se pensa na situação fiscal”, diz Matheus Massote, sócio da One Investimentos. “É preciso ver como Haddad ficará nessa situação”, acrescenta.
Desde então, o Ibovespa acentuou perdas, o que ganhou dinamismo adicional com o que pode ser visto como uma humilhação pública de Zelensky por Trump – e possível alinhamento adicional do republicano com o presidente autocrata russo Vladimir Putin, em detrimento da histórica aliança americana com a Europa Ocidental e liberal. Com Gleisi apenas, o Ibovespa caía pouco mais de 1%, mas a perspectiva de um cenário externo sob tensão nos próximos dias – com mercados abertos lá fora e fechados aqui para os dias de folia – aprofundou a correção do índice, em intensidade bem superior à observada em Nova York, que passou de ganhos em torno de 0,4% para perdas e, depois, a fechamento positivo em nível bem superior ao que se via antes do entrevero: Dow Jones +1,39%, S&P 500 +1,59%, Nasdaq +1,63%.
No Brasil, o dólar fechou o dia em forte alta de 1,50%, a R$ 5,9163 – vindo, no fechamento de anteontem, de R$ 5,80. Na semana, a moeda americana avançou 3,24% frente ao real e, no mês, teve alta de 1,37%.
Após a discussão pública na Casa Branca, Trump cancelou coletiva de imprensa com Zelensky prevista para a conclusão do encontro, que contou com a participação do vice americano, JD Vance – o qual chegou a mencionar o alinhamento e preferência de Zelensky pela continuidade da administração democrata nos EUA. Afirmando que as “cartas” não estão mais nas mãos de Zelensky para definir o futuro da guerra – pela dependência de apoio externo, especialmente dos EUA e da Europa -, Trump reiterou que o conflito na Ucrânia é terreno fértil para 3ª Guerra Mundial. Segundo a Fox News, ele teria determinado a Zelensky que deixasse a Casa Branca – e dito estar “desconfortável com a presença” do ucraniano em Washington.
A discussão pública sem precedentes no Salão Oval da Casa Branca ocorreu antes de reunião para a assinatura de acordo de exploração de minerais ucranianos pelos EUA – que não chegou a ser assinado, segundo a CNN. “Mesmo antes da situação entre Trump e Zelensky, a Bolsa já vinha em baixa na sessão, com Vale e Petrobras no campo negativo. E com o noticiário sobre a Eletrobras, relativo a Angra 3, as ações da empresa eram um dos poucos pontos fortes do dia”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Na B3, destaque para as perdas nas ações de grandes bancos, de até 4,11% (Santander Unit, mínima do dia no fechamento, assim como para Itaú PN -2,44%). Vale ON cedeu 2,04% (também no piso da sessão no encerramento), com Petrobras mostrando sinal negativo na ON (-0,48%) e PN (-1,86%). Na ponta perdedora do Ibovespa, Marfrig (-10,15%), Braskem (-7,11%) e Vamos (-6,62%). No lado oposto, Marcopolo (+2,80%), Eletrobras (ON +2,60%, PNB +1,70%) e Localiza (+1,81%).
Em fevereiro, o Ibovespa teve perda de 2,64%, após progressão de 4,86% em janeiro – que havia sido o melhor desempenho mensal desde o avanço de 6,54% em agosto passado. No agregado em 2025, o índice da B3 ainda sobe 2,09%. Na semana, houve perda de 3,41%, após revés de 0,85% no intervalo anterior. Em porcentual, a queda diária desta sexta-feira foi a mais aguda desde 12 de fevereiro, quando havia cedido 1,69%. E o nível de fechamento foi o mais baixo desde 24 de janeiro.
A expectativa do mercado financeiro para o desempenho das ações no curtíssimo prazo segue rigorosamente dividida no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, as previsões de alta, queda e estabilidade para o Ibovespa na próxima semana têm fatia de 33,33% cada, pela terceira semana consecutiva.