Por que acidentes aéreos são mais comuns em pousos e decolagens?
Data: 28/02/2025 18:24:49
Fonte: ultimosegundo.ig.com.br

Os registros mais recentes indicam que, entre janeiro e fevereiro de 2024, ocorreram cerca de 27 acidentes na aviação geral
Nos primeiros meses de 2025, a aviação geral registrou cerca de 27 acidentes, destacando os desafios contínuos em relação à segurança no setor. Embora o número seja preocupante, ele reflete apenas uma parte do cenário, que inclui fatores como o treinamento de pilotos e a manutenção das aeronaves.
Publicidade
Aroldo Soares, fundador e Head de Produtos da Espaço Aéreo, explicou que, historicamente, a maior parte dos acidentes ocorre durante as fases de decolagem e pouso.
“Tenho dados sobre acidentes aeronáuticos dos últimos 10 anos, desde 2014. As causas mais comuns envolvem falhas ou mau funcionamento do motor, perda de controle em voo, excursão de pista e falhas em operações de baixa altitude. Porém, o essencial é analisar a totalidade dos acidentes”, disse.
Nos primeiros meses de 2025, quase 30 incidentes foram registrados, com a maior parte ocorrendo na aviação geral, regulamentada pelo Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) 91. Esse segmento abrange aeronaves de serviços públicos, tanto regulares quanto não regulares. “Embora os números de acidentes sejam preocupantes, a maior parte deles está concentrada na aviação geral”, comentou Soares.
Em comparação, a aviação comercial, regulamentada pelos RBAC 121 e 135 e que inclui empresas como Gol e Azul, apresenta números de acidentes bem mais baixos. Entre 2015 e 2024, os registros foram mínimos: em 2015, um acidente; em 2016, dois; em 2017, um; em 2018, dois; em 2019, dois; em 2020, um; em 2022, um; e em 2024, dois.
“Apesar de um pequeno aumento em 2024, os acidentes no setor comercial são bem menos frequentes, e a maior parte ocorre na aviação geral, que envolve diferentes tipos de aeronaves, como aviões privados e helicópteros“, explicou o especialista.

Avião da Azul
Publicidade
As estatísticas também mostram que a maioria dos acidentes ocorre durante decolagens e pousos. Em 2024, por exemplo, foram registrados 32 acidentes na decolagem e 39 no pouso.
“Esses números demonstram a necessidade urgente de aprimorar o treinamento de pilotos, especialmente na aviação geral, que tem menos supervisão em comparação com a aviação comercial”, destacou Soares.
O especialista também abordou a questão do treinamento dos pilotos.
“Na aviação comercial, os pilotos recebem treinamento estruturado e rigorosamente supervisionado. Já na aviação geral, o nível de controle e supervisão é bem inferior, o que representa um risco significativo”, afirmou.
Soares também chamou atenção para as práticas de alguns empresários do setor. “Muitas vezes, empresários investem milhões em aeronaves, mas tentam economizar nos custos de manutenção e na contratação de pilotos. Essa economia pode gerar riscos, especialmente quando as aeronaves transportam passageiros e familiares.”
Apesar do aumento de acidentes em 2024, Soares observa que, proporcionalmente, os índices estão em queda. “O volume de acidentes em 2024, embora elevado, não é tão alarmante quanto a percepção pública sugere. Comparando com 2015, quando ocorreram 172 acidentes com um número menor de aeronaves em operação, a taxa de acidentes tem diminuído, principalmente se considerarmos as horas de voo e a frota atual.”
Publicidade
Ações
Soares também mencionou a influência da mídia. “Hoje, qualquer incidente aéreo recebe ampla cobertura. Se uma aeronave sai da pista, o caso ganha grande destaque. Já os acidentes de trânsito, que ocorrem a cada minuto em cidades como São Paulo, frequentemente não recebem a mesma atenção, apesar do grande número de vítimas.”
Para enfrentar esses desafios, novas iniciativas estão sendo implementadas. “No final de 2024, foi criado o Instituto Brasileiro de Segurança Aérea (BrASI), que visa melhorar a formação de profissionais do setor. Faço parte do conselho dessa organização, que reúne pilotos experientes, ex-investigadores do CENIPA e especialistas da aviação geral e militar”, afirmou.

Na aviação comercial, o histórico de acidentes é significativamente menor
Na aviação comercial, o histórico de acidentes é menor. Essa iniciativa busca fortalecer a formação de pilotos, despachantes operacionais de voo, mecânicos e controladores de tráfego aéreo. “O objetivo é garantir que todos os profissionais da aviação recebam treinamento de alto nível, assegurando a segurança operacional no país”, concluiu o especialista.
Preocupações internacionais
Não são apenas os brasileiros que são impactados com os acidentes de aviões. Um caso que chamou a atenção foi da aeronave da Southwest Airlines, que precisou arremeter durante a aterrissagem no Aeroporto Midway, em Chicago, para evitar uma possível colisão com um jato privado que cruzava a pista.
A tripulação seguiu os procedimentos de segurança e conseguiu evitar uma tragédia.
O caso ocorre em meio a preocupações sobre a segurança no controle do tráfego aéreo nos Estados Unidos, após uma série de incidentes recentes.
Entre eles, um acidente fatal em Washington, em janeiro, e quase colisões em Austin, Syracuse e Nashville. O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) investigou um desses eventos e concluiu que um erro do controlador de tráfego aéreo foi a causa.
Assista ao vídeo abaixo: