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Oscar 2025: Academia de Artes Cinematográficas fez a lição de casa

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Data: 03/03/2025 04:04:59

Fonte: em.com.br

Os cinco Oscars que o filme “Anora” levou na madrugada desta segunda-feira (3/3) são o reflexo de toda a reestruturação que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas vem realizando na última década. Produção independente de US$ 6 milhões, pechincha diante dos valores de Hollywood, “Anora” poderia não ter as mesmas chances no passado.

É só olhar a lista de vencedores da categoria de Melhor Filme para entender como o cenário foi afetado pela chegada de novos membros votantes (este ano, 9,9 mil profissionais do cinema estiveram aptos a votar).

O divisor de águas foi o sul-coreano “Parasita”, de Bong Joon-ho, em 2020 – a primeira produção em língua não inglesa a receber o prêmio principal em quase 100 anos de Oscar (a primeira cerimônia ocorreu em 1929). Antes e depois dele, os resultados provam que a Academia está tentando refletir a diversidade do mundo fora da tela do cinema.


Diversidade


A lista de 2015 a 2024 inclui filmes dirigidos por uma mulher (“Nomadland”, de Chloé Zhao, primeira asiática a vencer o prêmio); latinos (“Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância)”, do mexicano Alejandro González Iñárritu, e “A forma da água”, de seu compatriota Guillermo del Toro); um negro (“Moonlight: Sob a luz do luar”, de Barry Jen-kins, ainda pioneiro pela temática LGBT).

Todos esses grupos eram tradicionalmente escanteados pela Academia. Em 2012, o Los Angeles Times publicou reportagem com relatório mostrando que a instituição, então com 5,7 mil membros, era 94% branca e 77% masculina.

Apesar das disparidades existirem há muito, foi somente a partir da edição de 2015 que o caldo começou a entornar. Naquele ano não houve indicações de ator negro e de mulher nas categorias de direção, roteiro e fotografia. Tampouco havia protagonista feminina entre os longas nomeados a Melhor Filme. Foi então criada a campanha #OscarSoWhite, cuja demanda principal era a falta de diversidade entre os indicados.

Baixa audiência


A política da Academia não mudou, tanto que a edição de 2016 será sempre lembrada como #OscarStillSoWhite. Intérpretes negros permaneciam ausentes das indicações. A falta de representatividade repercutiu nos números. Já descendente desde 2015, a audiência televisiva da cerimônia caiu ainda mais naquele ano.


Era hora de se movimentar, tanto que em 2016 a Academia anunciou grande mudança nas regras, chamando novos votantes (incluindo brasileiros, que vão aumentando ano após ano). O impacto foi grande, tanto que em 2017 “Moonlight: Sob a luz do luar”, produção que cala fundo na questão racial, sagrou-se vencedor.


Em outubro de 2017, estourou o maior escândalo da história recente de Hollywood. O jornal The New York Times deu início à série de reportagens denunciando Harvey Weinstein por assédio sexual e estupro. Quase uma centena de mulheres foi vítima do produtor cujos filmes receberam mais de 300 indicações ao Oscar e 81 estatuetas.


Outros denunciados se juntaram a Weinstein, o ator Kevin Spacey o mais célebre deles. A hashtag #MeToo passou a dominar postagens nas redes sociais e logo foi criado o movimento Time’s up (o tempo acabou), para combater o assédio. Não só no cinema, diga-se. O comportamento de homens e mulheres no trabalho e nas relações sociais mudou radicalmente desde então.


Mal recuperada do baque, Hollywood se deparou, em 2020, com a devastação da pandemia. Os EUA perderam cerca de duas mil salas em decorrência da crise sanitária. O período também representou a explosão do streaming mundo afora, com muitas produções estreando diretamente nas plataformas.


Fora dos EUA

A matemática mudou e a audiência internacional passou a fazer a diferença na hora de Hollywood fechar as suas contas. Hoje, um filme com pretensões ao Oscar precisa também “conversar” com outros públicos que não exclusivamente o norte-americano.


Isso explica as sete estatuetas que “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” – comédia dramática com pegada de ficção científica falada em inglês, cantonês e mandarim – recebeu dois anos atrás.


Diversidade não significa qualidade, e algumas escolhas do Oscar são discutíveis. “No ritmo do coração” é melodrama inofensivo – ser eleito o Melhor Filme em 2022 foi sintoma do que o mundo enfrentava.

História de uma garota, o único membro ouvinte de família de surdos, refletiu menos o cinema e mais o momento de desassossego pelo qual o público passava na reta final da pandemia.


O próprio “Tudo em todo lugar” teve sua ampla vitória contestada por muitos, que creditaram a quantidade de prêmios do filme à tentativa da Academia de se aproximar das novas gerações. Fato é que acertando algumas vezes e errando outras tantas, o Oscar tenta manter sua relevância quase 100 anos depois de sua criação.

Vencedores da última década


2015 – “Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância)”


2016 – “Spotlight – Segredos revelados”


2017 – “Moonlight: Sob a luz do luar”


2018 – “A forma da água”


2019 – “Green Book: O guia”


2020 – “Parasita”


2021 – “Nomadland”


2022 – “No ritmo do coração”


2023 – “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”


2024 – “Oppenheimer”