O xeque dos Emirados Árabes que promete trazer US$ 100 bi ao Brasil e reurbanizar favelas
Data: 03/03/2025 17:01:46
Fonte: estadao.com.br

Zayed Bin Rashid Bin Aweidha Al QubaisiCEO do Abu Dhabi Investment Group (ADIG)
O CEO do Abu Dhabi Investment Group (ADIG), o xeque Zayed Bin Rashid Bin Aweidha Al Qubaisi, esteve no Brasil no fim do ano passado para uma série de reuniões com autoridades nacionais, como o presidente Lula, em Brasília, e o governador Cláudio Castro, no Rio de Janeiro.
Para Lula, foi apresentada, a possibilidade de investimentos superando os R$ 100 bilhões. Esse valor incluiria aportes para a restauração de pastagens, desenvolvimento industrial, exportação de produtos agrícolas, projetos de infraestrutura e até em defesa. Essa promessa se materializou em um anúncio sobre a criação de um fundo com esse valor, feito no dia 15 de fevereiro, em Miami, e que envolve também o empresário Mário Garnero.
Para Castro, o xeque apresentou um plano de investimentos em transportes e reurbanização de favelas na Baixada Fluminense e São Gonçalo, expandindo a Linha 4 do Metrô. É um projeto que pode exigir investimentos de até US$ 19 bilhões (R$ 112 bilhões), numa estimativa preliminar, antes de estudos mais aprofundados serem feitos.
Se o renomado fundo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos, já atua no metrô do Rio controlando a empresa concessionária da Linha 4, o grupo de investimentos ADIG pode expandir essa presença ao trazer sua expertise em desenvolvimento urbano para impulsionar o crescimento do entorno da capital carioca, fortalecendo ainda mais os investimentos do país no Estado.
O ADIG ainda prometeu investir US$ 500 milhões (R$ 2,87 bilhões) no projeto de supercana do empresário Eike Batista, que resulta na criação da empresa BRX, anunciada na terça-feira, 25, no Rio de Janeiro. O financiamento pode representar a recuperação para os negócios de Eike, que já foi o homem mais rico do Brasil.
O ADIG foi criado em 1958 pelo pai do atual CEO, Rashid Bin Aweidha Al Qubaisi, e acabou tendo papel de protagonismo em desenvolver o país de acordo com os planos do fundador dos Emirados Árabes Unidos, o xeque Zayed Bin Sultan Al Nahyan, que foi o primeiro presidente dessa nação hoje próspera do Oriente Médio.
Foi o grupo quem construiu o principal aeroporto, a base área Al Dhafra, o sistema financeiro do país, incluindo o seu primeiro banco, e grande parte da infraestrutura de Dubai e da capital Abu Dhabi, que até a década de 1960 não passava de uma cidadela com apenas um automóvel em circulação e apenas um prédio não assemelhado a cabanas pré-históricas.
Depois de ajudar a desenvolver o país, o grupo, dono atualmente de ativos superiores a US$ 350 bilhões, buscou projetos pelo mundo e fez parte do projeto que criou a nova capital administrativa da Malásia, Putrajaya, para onde se mudou o governo federal do país em 1999.
O xeque Al Qubaisi vê oportunidades em diversos setores no Brasil, além da infraestrutura. Entre as possibilidades de investimentos, estão as áreas de defesa e energia.
O investidor informou ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, e ao ministro da Defesa, José Múcio, a assinatura de um acordo estratégico com a Akaer, empresa brasileira do setor aeroespacial, com intermediação da Brasilinvest, de Garnero, e do Banco SEU. O Estadão revelou que um dos planos de salvamento da Avibras da falência envolve uma possível fusão com a Akaer.

O xeque Zayed Bin Rashid Bin Aweidha Al Qubaisi, do grupo de investimentos árabe ADIG, cumprimenta o presidente Lula Foto: Divulgação ADIG
Leia os principais trechos da entrevista com o Estadão.
Vemos oportunidades nos setores de infraestrutura, petróleo e gás, e em exportações. Para os Emirados Árabes Unidos, o Brasil também pode trazer uma boa cooperação para a segurança alimentar, com investimentos de outros grupos, não necessariamente do ADIG. Eu, particularmente, estive discutindo com o governador do Rio de Janeiro alguns investimentos para a cidade do Rio e os seus arredores.
Como seria esse projeto?
Discuti a possibilidade de redesenvolvimento de áreas urbanas, com metrô e trens de alta velocidade, e prover casas alternativas para favelas. É possível levar estradas, metrôs e trens rápidos para redesenhar e conectar cidades próximas da capital carioca.
Seria um projeto de longo prazo, que levaria décadas?
É algo que daria para ser feito muito rapidamente. Conseguimos reconstruir Putrajaya, a nova capital administrativa da Malásia, em quatro anos. Com o apoio do governo, pode ser feito muito rápido também no Rio. É algo que já vimos nos Emirados Árabes. Fizemos uma revolução em Abu Dhabi e Dubai, com o desenvolvimento muito rápido das cidades e com grandes mudanças. Para o Rio de Janeiro também não seria algo pequeno. Pode levar a região a outro patamar, com o potencial de ter um grande efeito em sua economia.
Poderia ser de até US$ 19 bilhões (R$ 112 bilhões), mas é um número que não podemos confirmar até haver um projeto mais aprofundado. O governo deve nos fornecer informações mais precisas, para podermos estimar a necessidade de recursos.

Ao centro, o xeque Zayed Bin Rashid Bin Aweidha Al Qubaisi, do grupo de investimentos árabe ADIG, cumprimenta o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro Foto: Divulgação ADIG
Esse valor inclui apenas esse projeto na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, ou inclui outros planos para o Estado, como a smart city planejada pela Brasilinvest com o Eike Batista, para a região do Porto de Açu?
Apenas para os arredores da capital do Estado. Este outro projeto ainda estamos avaliando.
Como o ADIG foi criado? Ele tem experiência em grandes projetos como esse?
Ele tem 66 anos, e, além da atuação em petróleo e gás, desenvolveu todo o setor bancário nos Emirados. Proveu toda a estrutura de financiamento do país, não apenas por meio de bancos, mas também com fundos soberanos, e depois começou a atuar globalmente. A mãe do sheik Zayed Bin Sultan Al Nahyan era da minha família e foi dele que recebi o meu nome. Pelas relações próximas, estivemos sempre juntos no plano de construir a nação e desenvolver vários setores.
Fizemos grande parte da construção dos Emirados Árabes Unidos, incluindo as obras do Congresso do país, e o fundador do ADIG foi o chefe do Congresso. Construímos o aeroporto de Abu Dhabi e uma subsidiária administrou ele, até o governo assumir a gestão. A base aérea de Al Dhafra, onde os Estados Unidos operam os seus jatos, como o F-35, também foi feita pelo ADIG. Também a Cidade da Medicina Sheik Khalifa foi obra nossa. O ADIG teve um papel essencial para o país.
Essa experiência pode servir ao Brasil, mesmo sendo um país tão diferente?
O Brasil é um país muito grande, com muitos recursos e muito potencial para mais desenvolvimento. Ele pode ser um dos mais importantes do mundo. Somos um país muito pequeno com grande produção. Apesar de termos uma população de 11 milhões de pessoas, o nosso PIB tem 25% do tamanho do brasileiro, com US$ 500 milhões. Nos anos 1960, Abu Dhabi era toda feita de casas construídas com palmeiras (mostra um vídeo no celular). Apenas um único prédio tinha uma construção mais robusta, e nem era de tijolos. E havia um único carro na cidade. As pessoas viviam no mesmo tipo de construção de 3 mil anos atrás. Eu já viajei para muitos países, e agora estamos mais avançados do que muitas grandes cidades desenvolvidas. Nossos hotéis e companhias aéreas estão entre os melhores do mundo.
É preciso de muitos esforços de educação, de muitas discussões sobre o país. Não é fácil culturalmente para se adaptar. Mas especialmente o grande desafio é político. Tentamos ajudar diversos países, não só na Ásia, mas também na África, onde queríamos ajudar implementar projetos de desenvolvimento. Não vou citar os nomes. Mas encontramos muitas pessoas com interesses próprios, que só iniciariam os projetos se fizessem as suas fortunas no primeiro passo desses projetos. Assim, não funciona. Para fazer como os Emirados é preciso muita dedicação. Algumas pessoas com superpoderes políticos não pensam no desenvolvimento de acordo com o interesse da sociedade. É impossível apenas uma pessoa ou um grupo político colher todos os benefícios. Espero que não seja o caso no Brasil. Quando há muitas interferências políticas tudo entra em colapso, e mesmo quem está no poder sofre com esse colapso.
O Brasil é uma democracia, de fato. Houve, infelizmente, esse caso do plano de sequestrar o presidente eleito. Isso seria muito negativo e levaria a problemas políticos e econômicos. Seria um sinal negativo para os investimentos internacionais. Deixaria os investidores preocupados e eles fugiriam do País. A estabilidade é a coisa mais importante para trazer desenvolvimento. Sem ela, todos deixam de investir, mesmo que não falem abertamente isso. Infelizmente, muitas pessoas com poder não entendem isso. Como se diz, o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. Mas, agora, está tudo indo na direção certa para o Brasil. Vamos ver o que vai acontecer. As ameaças para a estabilidade foram limpas.
Um dos grandes desafios atuais para os Emirados agora tem sido diversificar a economia e evitar a dependência do petróleo. Como isso está acontecendo, e os aportes no Brasil podem ajudar?
Estamos avançando em tecnologia, em IA, estamos nos diversificando para muitos setores. O Brasil traz muitas oportunidades para nós. É um país muito estável e o mundo dos investimentos está acompanhando tudo.