O estudo “Mercado da maioria”, da PWC, aponta que 64% dos consumidores aceitam pagar mais por marcas que apoiam a diversidade. Além disso, 50% deles já deixaram de consumir produtos de empresas com atitudes preconceituosas. Com a percepção de que “trabalhar com inclusão não é caridade, é oportunidade”, o MOVER lança o “Guia de Compras Inclusivas”, um plano de ação para incluir fornecedores negros na cadeia de valor das grandes empresas. Para que o programa pudesse ser roteirizado, os desenvolvedores mapearam os empecilhos que existem entre as grandes empresas e os fornecedores afrodescendentes. Entre eles, estão:

A complexidade sistêmica nos cadastros faz com que muitos empreendedores negros não passem dessa fase, avalia o guia MOVER. Outros fatores como a exigência de documentos e certificações dispensáveis e o uso de terminologias estrangeiras dificultam a conexão entre a companhia e o prestador de serviços. “O processo de cadastro acessível é fundamental. As organizações precisam entender que, quando falamos de empresas de tamanhos diversos, nem sempre haverá uma pessoa dedicada a fazer o cadastro”, reforça Soares.

O segundo problema identificado pela organização diz respeito ao atendimento. “Fornecedores negros são mal atendidos, confirmando o racismo estrutural e os vieses inconscientes”, declara o MOVER. Por outro lado, não há preocupação em dar feedback ao fornecedor. O gerente de projetos defende que as grandes empresas devem investir em um atendimento empático, com pessoas treinadas e sensíveis aos problemas do afroempreendedor. Para ele, um bom atendimento deve facilitar a interação e evitar vieses que impeçam essas pessoas de competir em pé de igualdade.

Longos prazos de pagamento

“A política de pagamento com prazos longos pode estrangular o caixa das empresas”, comenta o responsável pelo guia de compras. “Dependendo do tamanho e da natureza do negócio, isso pode ser um grande impeditivo”, complementa. Prazos de 120 ou 150 dias não permitem a participação de fornecedores menores. Os desenvolvedores do guia ainda observam que deve-se ter um regime de pagamento personalizado para pequenas empresas. “É importante analisar essa dinâmica, pois não necessariamente terá um grande impacto na lógica de caixa da empresa como um todo”, detalha Soares.

No grupo de soluções, ainda estão descritas medidas como programas de incentivo, material informativo ao fornecedor e uma gestão completa de mudanças. O manual também relata níveis de maturidade organizacional relativos ao tema, em que a companhia pode-se identificar e seguir um cronograma personalizado. As soluções propostas pelas MOVER podem durar entre nove e doze meses e o material completo conta com fichas de implementação e uma matriz de riscos.

O gerente de projetos do MOVER, por fim, levanta que uma experiência de contratação de fornecedores negros deve ser entendida como qualquer outra. “Se um fornecedor negro fizer uma entrega ruim, ele deve ser avaliado como qualquer outro fornecedor que já fez entregas boas ou ruins. Não é preciso criar um estigma a partir de uma única experiência”, alerta. Soares ainda destaca que, ao contratar serviços de um afroempreendedor, é possível que esteja impactando diversas famílias negras, tendo em vista que estes donos de pequenos e médios negócios costumam empregar mais pessoas pretas. “Essa é uma forma de atuar dentro do ambiente corporativo para gerar um impacto real na construção de uma sociedade mais equânime”, encerra.