Suspeitos de matar casal em festa nazista serão julgados 16 anos depois
Data: 10/03/2025 16:35:23
Fonte: plural.jor.br
Dezesseis anos após o crime, sete pessoas suspeitas da morte de um casal em Quatro Barras, em 2009, irão a júri popular neste mês e em maio. Eles teriam participação na morte de Bernardo Dayrell Pedroso e Renata Weachter Ferreira, após uma festa que reuniu neonazistas em um chácara na zona rural do município da região metropolitana. A festa foi realizada na noite do dia 20 de abril, data de nascimento do ditador nazista Adolf Hitler.
As investigações da época, conduzidas pelo Cope (Centro de Operações Policiais Especiais), indicaram o economista Ricardo Barollo, de São Paulo, como o mandante das mortes. O júri dele está marcado para o dia 22 de maio. Outras seis pessoas suspeitas das execuções ou de participação irão a júri popular no dia 20 deste mês. Os julgamentos serão em Campina Grande do Sul, na região metropolitana.
Disputa interna
Barollo teria encomendado as mortes em meio a uma disputa de poder entre os neonazistas brasileiros. A festa teria sido organizada por Bernardo Dayrell, que tinha 24 anos e era estudante de Direito em Minas Gerais. Ele seria contrário às agressões a homossexuais e travestis que vinham sendo registradas em Curitiba, por achar que a violência “prejudicava a imagem” do movimento. Renata Weachter Ferreira, de 21 anos, era namorada dele e estudante de Arquitetura na PUCPR.
Marcada pela internet para a data do nascimento de Hitler, a festa teria reunido skinheads e neonazistas de Curitiba, de outras cidades e de Santa Catarina. Barollo não participou. Já na madrugada do dia 21, Bernardo e Renata teriam sido chamados por uma participante da festa para comprar cerveja e buscar seu namorado em Curitiba. Na volta, eles teriam simulado uma briga e a mulher foi deixada em casa. O papel dela seria tirar o casal da festa e identificar o carro em que eles estariam.
Quando estavam na BR-476, em direção à chácara, o ocupante teria pedido para parar o carro. Nesse momento, outro veículo, com dois ocupantes encapuzados, se aproximou. Eles teriam atirado na nunca de Bernardo e três vezes contra Renata. Um dos tiros acertou a cabeça dela. Os dois morreram no local.
Prisões e julgamentos adiados
Em maio de 2009, seis pessoas foram presas pelo Cope. Quatro foram presas em Curitiba, inclusive o casal que teria participado da emboscada. Ricardo Barollo foi preso em São Paulo e o suspeito de atirar contra o casal foi detido em Teutônia (RS). Com ele foi apreendida uma das armas que teria sido utilizada no crime, uma pistola Hi-Power calibre 9 mm registrada na Argentina. Outra arma foi encontrada no Parque Barigui, em Curitiba.
Todos foram libertados no dia 2 de julho de 2009, após decisão da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), devido a uma palavra errada no processo. Barollo foi novamente preso no dia 28 de outubro, mas deixou a cadeia no dia 30, após novo habeas corpus concedido pela 1ª Câmara Criminal do TJ-PR.
Em abril de 2011, os seis suspeitos foram interrogados em audiência pública no Fórum da Comarca de Campina Grande do Sul, mas desde então o julgamento vem sendo adiado. A Justiça de Campina Grande do Sul pronunciou os acusados em agosto de 2014, mas o processo ficou parado na 1ª Câmara Criminal. Em abril de 2018, o caso foi denunciado à a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Os julgamentos chegaram a ser marcados para agosto e setembro do ano passado, mas foram novamente adiados.
“A demora desse júri acabou trazendo para essas pessoas uma sensação de que estão autorizadas a continuar a propagar a ideologia nazista”, comentou o advogado José Carlos Portella Júnior, assistente da acusação contratado pelo pai de Renata, Amadeu Ferreira Júnior. “Tanto que, anos depois um dos suspeitos foi preso de novo por fazer parte de uma célula nazista”.
Solto e na ativa
José Carlos Portella Júnior se refere a um dos suspeitos de ter atirado em Bernardo e Renata, João Guilherme Correa, preso em novembro de 2022 em um sítio na rodovia SC-281, em São Pedro de Alcântara (SC). O encontro seria a reunião anual de uma célula neonazista que vinha sendo monitorada pela Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância da Polícia Civil de Santa Catarina.
Oito pessoas foram presas, entre elas Correa, conhecido como “Kempfer”. No local os policiais apreenderam munições, armas brancas, broches, camisetas de bandas neonazistas, livros e imagens de Hitler, além dos celulares dos suspeitos. Outro participante do encontro foi condenado a 13 anos de prisão, em 2018, por espancar, junto com outras pessoas, três homens que usavam quipás. João Guilherme Correa seria um dos encapuzados que executou Bernardo e Renata em abril de 2009. Ele tinha 18 anos na época.
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