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Lula oficializa assentamento do MST que desafia latifúndio

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Data: 29/05/2025 17:46:10

Fonte: diariocarioca.com

Ortigueira (PR) — No coração de um Brasil que insiste em resistir aos retrocessos impostos pelo latifúndio e pelos herdeiros do coronelismo, Luiz Inácio Lula da Silva celebrou nesta quinta-feira a criação do Assentamento Maila Sabrina, no Paraná. São 450 famílias, mais de 1.600 pessoas, que finalmente veem sua dignidade reconhecida após 22 anos de luta. A cerimônia ocorreu nos municípios de Ortigueira e Faxinal, marcando uma vitória concreta do Programa Terra da Gente, projeto que reverte a lógica excludente do campo brasileiro.

Lula, sem papas na língua, foi direto ao ponto: “Quanto mais gente estiver produzindo no campo, quanto mais pequenos proprietários a gente tiver, quanto mais incentivo a gente der, quanto melhor produzir, fica mais barato e todo mundo vive melhor”. A frase escancara o óbvio que o agronegócio insiste em negar: a reforma agrária não é esmola — é estratégia econômica, justiça social e soberania alimentar.

Ocupação, não invasão: a verdade sobre o campo

O assentamento Maila Sabrina ocupa a Fazenda Brasileira, uma área de 10,6 mil hectares que, antes da ocupação em 2003, abrigava uma criação de búfalos e acumulava degradação ambiental. Desde então, o local virou território de resistência e produção. Enquanto o Estado se ausentava, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) erguia escolas, hortas, agroindústrias e projetos culturais. Tudo isso sem um centavo de investimento público, já que a área era considerada “irregular”.

“Tem gente que tenta vender a imagem de que vocês são invasores de terra”, criticou Lula. “Na verdade, vocês são invasores de dignidade, de respeito, de direitos que vocês têm que ter.” A frase do presidente desmonta a retórica bolsonarista e midiática que insiste em pintar o MST como bicho-papão do agronegócio. A verdade? São famílias pobres lutando por pão, terra e futuro.

Produção real, comida de verdade

A comunidade produz em média 21 toneladas de frutas por ano. São 110 mil sacas de grãos e cereais, além de toneladas de batata-doce, moranga, quiabo, verduras e folhas — tudo sem envenenar o solo. A diversidade impressiona e desmoraliza os monocultores que, mesmo subsidiados, vivem de exportar soja e fome.

Durante o evento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, evocou as raízes do pai agricultor no Líbano para reconhecer a força simbólica da conquista: “Sei o que vocês devem estar sentindo. Depois de 22 anos de luta, vocês vão poder ficar aqui, criar suas famílias aqui, prosperar aqui e alimentar o povo brasileiro”.


Lula: 'Quanto mais gente produzir no campo, mais barato fica. E todo mundo vive melhor' - Foto: Ricardo Stuckert
Lula: ‘Quanto mais gente produzir no campo, mais barato fica. E todo mundo vive melhor’ – Foto: Ricardo Stuckert

Justiça que chega tarde, mas chega

A legalização do assentamento se deu por acordo judicial, mediado pelo Tribunal de Justiça do Paraná e homologado pela Justiça Federal. Uma solução construída na base da luta e da política — não das balas, despejos e drones tão adorados pelos ruralistas. O advogado-geral da União, Jorge Messias, não deixou dúvidas sobre o protagonismo de Lula na virada: “Qualquer acordo que a gente consegue construir só se dá porque nós temos a decisão política do presidente Lula, que nos inspira todos os dias.”

Para Messias, a fazenda degradada antes de 2003 simboliza o país abandonado pelos governos da extrema-direita: “Com a mesma determinação que vocês tiveram há 22 anos, o presidente Lula assumiu a missão de reconstruir o Brasil”.

Terra da Gente: a nova cara do campo

Lançado em 2024, o Terra da Gente reorganiza as terras improdutivas do país para assentamentos produtivos. O programa vai além do simples direito constitucional: ele propõe um novo modelo de desenvolvimento — popular, ecológico e autônomo. Com ele, o Estado volta a ter lado: o do pequeno agricultor, da mulher rural, da agroecologia.

Durante a cerimônia, foi anunciado R$ 1,3 milhão em crédito do Fomento Mulher para 142 trabalhadoras do Assentamento Eli Vive, também no Paraná. Além disso, contratos do Pronaf foram assinados e um Protocolo de Intenções com a Itaipu Binacional garante a compra institucional de alimentos da agricultura familiar. Medidas concretas para tirar o Brasil do mapa da fome, onde foi jogado por um governo que só alimentava os generais e os donos do agronegócio.

Maila Sabrina: uma menina, um símbolo

O assentamento leva o nome de uma criança morta aos três anos. Sua memória virou bandeira de resistência. Segundo o ministro Paulo Teixeira, “foram apresentados ao presidente Lula 160 tipos de alimentos da cultura alimentar do nosso povo. Ali eu vi o caminho para tirar todos os brasileiros do mapa da fome”. A frase resume o que está em jogo: não é só terra, é vida — de qualidade, com comida, dignidade e futuro.

Roberto Baggio, do MST, resumiu o tamanho da conquista: “Tudo que vocês estão vendo aqui, com exceção da unidade de saúde, foi construído sem nenhum aporte público. Agora, com esse projeto de assentamento, nós vamos ver desenvolvimento econômico, social e produtivo”.

Se o Brasil oficial é o dos latifundiários que nunca plantaram um pé de alface, o Brasil real está florescendo no assentamento Maila Sabrina. E como Lula lembrou, “todo mundo vive melhor” quando quem planta colhe — e reparte.

O Carioca esclarece

Por que o assentamento Maila Sabrina é considerado simbólico?
Porque representa a vitória da luta popular contra o latifúndio e formaliza uma ocupação histórica do MST com base produtiva e comunitária consolidada.

Qual o papel do Programa Terra da Gente nesse processo?
Ele reorganiza terras improdutivas para assentar famílias com políticas públicas estruturadas, promovendo justiça agrária e desenvolvimento sustentável.

O que foi acordado judicialmente no caso Maila Sabrina?
Foi celebrado um acordo entre todas as partes, homologado pela Justiça Federal, reconhecendo o direito das famílias à terra após duas décadas de conflito.

Como a produção do assentamento contribui para o combate à fome?
Com alimentos orgânicos e diversificados, produzidos por 450 famílias, o assentamento abastece a região e reforça a soberania alimentar do país.